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Globalização e mais competitividade não
derrubam gastos sociais

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Globalização e mais competitividade não derrubam gastos sociais

PAUL DE GRAUWE

   Existe uma percepção cada vez mais forte de que as forças da globalização estão colocando em risco os sistemas de seguridade social nos países ricos. Essa percepção se baseia em uma idéia intuitiva. Os gastos com a seguridade social são altos e elevam os custos da mão-de-obra, o que induz as empresas a transferir atividades para países onde o sistema de seguridade social é menos desenvolvido, e os custos trabalhistas, inferiores.
Os países ricos então se vêem sob pressão para reduzir suas provisões sociais, o que ameaça uma de suas grandes realizações, ou seja, a capacidade de garantir uma renda razoável a todos os cidadãos atingidos pelas forças da competição.
Até que ponto é verdadeiro esse cenário de "race-to-the-bottom", do vale-tudo pela competitividade? A globalização está em curso já há algum tempo. Tornou-se mais intensa a partir dos anos 80, quando um número crescente de países abriu suas fronteiras. Mas, entre os membros da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), fora a Irlanda, os gastos sociais se elevaram de 80 para cá. Para a área da OCDE como um todo, os gastos sociais aumentaram de 19,5% para 24% do PIB médio das nações envolvidas. Assim, se existe o tal vale-tudo, é uma tendência que não se fez sentir vigorosamente nos últimos anos.
Os críticos da globalização provavelmente não se deixarão convencer por esse indicador. A globalização, alegam, ainda não obteve seu máximo impacto. No futuro, a dinâmica do vale-tudo pela competitividade operará com força maior. Talvez. Existe uma maneira indireta de averiguar essa tendência. Entre os países industrializados, os níveis de proteção social variam consideravelmente. Se a hipótese do vale-tudo for correta, os países que gastam muito com seguridade social deveriam estar perdendo competitividade.
É isso o que estamos vendo? A cada ano, o IMD, uma escola de administração de empresas sediada em Lausanne, na Suíça, calcula um índice de competitividade e classifica os países em um ranking. O índice sintetiza as diferentes dimensões da competitividade nacional (competitividade de preço e custos, capacidade de inovar, qualidade do capital humano, eficiência do setor público e outros indicadores). De acordo com os críticos, os países que gastam muito em seguridade social deveriam ter baixa competitividade e assim se veriam forçados a reduzir seus gastos sociais no futuro.
Mas os fatos apontam para um quadro diferente. No geral, os países da OCDE com gastos sociais elevados são também os que se saem melhor no ranking da IMD. Holanda, Finlândia, Dinamarca, Suécia e Noruega gastam mais de 30% de seu PIB para fins sociais, mas, de acordo com a classificação do IMD, estão entre os mais competitivos países do mundo.
Os EUA são a mais notória exceção a essa regra: ocuparam o primeiro posto em termos de competitividade, no período 1997-2001, e, com apenas 17% do PIB, têm um nível relativamente baixo de gastos sociais. Trata-se de um exemplo mencionado por aqueles que alegam que a globalização forçará os países a escolher entre a competitividade e o seguro social.
O fato é que não existe essa correlação. Os gastos sociais podem estar vinculados à competitividade. Países com fortes sistemas de seguridade social têm pouco a temer da globalização. Como explicar esse surpreendente resultado?
A competitividade de um país depende da qualidade de seu capital humano. Uma força de trabalho mais educada tem maior chance de criar tecnologias, produtos e técnicas. E a capacidade de inovar é crucial para manter e aperfeiçoar a competitividade.
Pode-se alegar que o capital humano de uma nação é aperfeiçoado por um sistema eficiente de seguridade social. Um sistema como esse permite que os trabalhadores se sintam menos inseguros e lhes dá uma sensação de inclusão. Esse sentimento de inclusão conduz a sociedades estáveis, com um forte senso de coesão. Um sistema eficiente de seguridade social cria um capital social que em última análise aumenta a produtividade de um país. Isso permite que mais recursos sejam usados na seguridade social.

Governo eficiente
Claramente, grandes gastos sociais não elevam a produtividade de um país automaticamente. A chave é um governo eficiente. Em países cujo governo é eficiente, as contribuições para a seguridade social são transformadas em serviços sociais cujo valor excede o montante contribuído. Nesses países, trabalhadores e empresários se sentirão satisfeitos, e a produtividade tem chance de melhorar. Inversamente, em países com governos ineficientes as contribuições se tornam serviços sociais de baixo valor. Frustração e falta de motivação resultam disso.
De certa forma, a globalização funciona como a "mão invisível" definida por Adam Smith. Ela pressiona os países a ganhar competitividade e força os governos a ser eficientes, gostando ou não. Os que obtiverem sucesso aumentam a competitividade de seus países e são recompensados por mais serviços sociais para os seus cidadãos; os que fracassam reduzem a produtividade e a competitividade e são punidos por menos serviços sociais para os seus cidadãos. Nesse sentido, a globalização pode forçar os governos a ser mais atentos às necessidades de seus povos.