Nível de preços

O nível de preços apresentou, inegavelmente, uma tendência à forte declínio após a implantação do real. Os dados mostram que, a partir de agosto de 1994, os principais indicadores tem situado a taxa de inflação mensal nunca superior a 4% , tendo chegado, em dezembro de 94, a taxas inferiores a 2% ao mês. Essa tendência à queda não se manteve, no entanto, nos primeiros seis meses do ano, tendo havido uma reversão no sentido de uma elevação de patamar a partir de abril , acima de 2% , chegando-se ao ápice em julho, com o IPC-FIPE , por exemplo, superando os 3% ao mês. As pressões inflacionárias vieram em abril-maio, dos alugueis, educação e despesas com vestuário, pela mudança de estação. As contrapressões residiram nos alimentos in-natura e eletrodomésticos. Já em junho-julho a elevação de preços deveu-se a reajustes de tarifas de transportes, alugueis, e serviços em geral, novamente atenuados pelos alimentos e eletrodomésticos. Em agosto, pelos índices até o momento divulgados aponta-se para uma redução da inflação, devido novamente a queda dos preços dos alimentos in natura e um novo fator: as liquidações no setor de vestuário e calçados. A redução para um patamar abaixo de 2% só não é maior devido a uma certa pressão vinda ainda dos reajustes de tarifas de transportes e dos alugueis.

Os fatores que poderão ou não contribuir para a manutenção desses patamares , ainda elevados para uma economia que se quer estabilizada e desindexada, são, basicamente:

a) o reajuste já em andamento das tarifas públicas federais

b) reflexos do desaquecimento da economia

c) política monetária do governo

d) ritmo de desvalorização cambial

e) Fatores sazonais , particularmente a entressafra, e despesas de vestuário devido a nova mudança de estação.

A evolução do nível de preços dependerá, no entanto, em ultima instancia , da "âncora cambial" , o mecanismo básico da estabilidade do real até o momento. Por isso, joga especial papel nesse quadro, a política econômica do governo, que será balizada pelos movimentos de capitais e mercadorias no setor externo da economia.

Os principais indicadores divulgados refletem o processo de desaceleração da inflação. Em Belo Horizonte ,em Agosto o IPCA-IPEAD foi de 1,73% No entanto, na terceira quadrissemana de setembro o índice teve aumento de 0,99%. EM São Paulo, o IPC-FIPE apontou 1,43% em agosto, contra 0,66% na 3a. quadrissemana de setembro.

Dificilmente este quadro poderá perdurar por muito tempo, pois existem no horizonte maiores fatores para uma reaceleração da inflação do que de manutenção de uma inflação baixa. Entre estes fatores, está a própria ação do governo, que tem sido obrigado a adotar medidas que acabam por pressionar os preços. O anúncio e algumas medidas no sentido do afrouxamento da contenção de crédito, ao lado da aceleração da desvalorização do real jogam neste sentido. Outro fator também é importante: trata-se do previsto reajuste de tarifas públicas. Embora o governo negasse, acabou por anunciar reajustes para tentar corrigir a defasagem atual. As perdas são grandes: 17% no caso da a energia elétrica, 22,14% no preço da gasolina e do diesel, em 20.5%.

O governo realizou um primeiro ajuste ao aumentar os preços dos combustíveis em 13% em média no último dia 27/09/95. Isto deve implicar em uma elevação entre 0,8% e 1,2% ao mês da inflação. O impacto dos reajustes nos preços da energia elétrica( previsto para cerca de 10%) seria de 0,45%, nos índices de inflação.

Outro fator a considerar é a questão da desindexação. A concentração de datas-base de grandes categorias de trabalhadores no período setembro-dezembro faz o governo temer pelos efeitos possíveis da elevação da massa salarial e do nível médio dos salários, já considerados altos.

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