Nível de Preços



      No mês de janeiro e fevereiro , a inflação brasileira demonstrou uma tendência acelerada de queda, com recordes históricos nas quedas dos índices. O IPC-FIPE em janeiro foi de 0,24% positivos, o menor índice desde janeiro de 1949(0,12% resultante da política ortodoxa do general Dutra) e a metade da variação de 0,57% de dezembro.

Os fatores sazonais foram importantes, tanto no sentido da queda (vestuário, habitação) como sentido contrário (alimentos, mensalidades escolares). Mas não há dúvida que o maior impacto vem do comportamento geral da economia, sob o impacto das medidas de política econômica do governo, do aumento do desemprego e da inadimplência.

     O IPC - FIPE de fevereiro foi negativo: -0,16%. A queda deveu-se, na composição do índice, sobretudo, às menores pressões dos setores de habitação (destacando-se os aluguéis), vestuário e educação, aliadas à redução dos preços dos alimentos e ao final do impacto da alta das tarifas de transportes urbanos (em São Paulo) e do ICMS sobre cigarros e bebidas (no Rio de Janeiro). Os demais índices também apresentaram queda, mas foram positivos. O IGP-M de fevereiro fechou em 0,18%, caindo 0,78 ponto percentual em relação ao mês de janeiro.

Houve desaceleração no IPC-M, que fechou em 0,46% frente aos 1,12% de janeiro. O IPA-M, por sua vez, registrou uma deflação de 0,05%, ante os 0,99% positivos de janeiro. Já o INCC-M subiu de 0,29% em janeiro para 0,48% em fevereiro. A inflação de fevereiro medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também baixou em relação ao mês de janeiro.

A taxa ficou em 0,54%, enquanto no mês anterior foi de 0,85%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também apresentou recuo, refletindo taxa de 0,46% em fevereiro, ante 0,71% em janeiro. Aparentemente, o fator mais importante foi a queda nos preços dos alimentos, que, apesar de estarem ainda elevados, por causa da sazonalidade, estão abaixo de janeiro.

     No mês de março a inflação continuou caindo. O IPC-FIPE fechou o mês com uma variação de 0,23% negativos, com um acumulado de 3,17%, contra os 3,62% do mês anterior. O INPC mensal foi de 0,49%, contribuindo para uma variação de 4,28% acumulada em 12 meses, menor, portanto, que os 4,48% no mês anterior. A deflação de 0,23% do IPC-FIPE em março deveu-se principalmente à retração dos preços industriais (principalmente duráveis) e de artigos de vestuário. Esta última foi maior do que se esperava, levando o vestuário a uma queda de 5,18% frente aos -3,21% do mês de fevereiro.

Além disso, também registraram variações negativas os subgrupos habitação (-0,20%) e despesas pessoais (-0,16%), este último desacelerando a tendência descendente com relação ao mês anterior. Houve desaceleração também nos itens transportes e saúde, que registraram respectivamente variações positivas de 0,24% e 0,47%, contra 1,82% e 1,28% do mês passado. Os itens alimentação (0,79%) e educação (0,21%) contrabalançaram este efeito, atuando no sentido da alta.

A evolução dos preços no primeiro trimestre sinaliza a deflação observada nos preços de produtos tradables - graças ao efeito competitivo das desvalorizações asiáticas, além da retração da demanda - compensou o avanço de preços de alguns non-tradables, como serviços e alimentos in natura.


     A tendência à queda dos preços foi aparentemente interrompida em Abril, quando o IPC-FIPE, por exemplo, chegou a 0,62% , após dois meses consecutivos de deflação. Na verdade, são fatores sazonais como a mudança de estação, levando a aumento dos preços do vestuário(6,59%), e a seca , que provoca aumento dos alimentos ( 0,36%), que provocaram esta variação. Os demais ítens permaneceram estáveis como habitação ( 0,07%) ou apresentaram queda , como transportes( -0,23%) , saúde ( -0,61%) e educação (-0,14%).

Este comportamento não será alterado rápidamente, já que está prevista uma entressafra ruim, com redução da oferta de milho e arroz no segundo semestre, e o custo desses produtos poderá ter alta significativa a partir de agosto ou setembro. Mas a tendência geral à queda da inflação é certa, e se reflete nos índices do IGP-M em Abril. que foi de e 0,13%, inferior ao de março, de 0,19%. O Índice de Preços no Atacado (IPA), variou 0,20%, o de Preços ao Consumidor (IPC), 0,20%, e o Nacional de Custo da Construção (INCC), que caiu 0,46%. O IGPM acumulado no ano ficou em 1,46% e nos últimos 12 meses, em 5,03%.

 

 

 

 

 

Cesta Básica: em Alta


     Um elemento importante para avaliação do comportamento da inflação deve ser buscado na evolução da cesta básica que, em São Paulo, tem demonstrado uma tendência altista que se manifestou também em fevereiro e março, atingindo em 17/3 o patamar recorde, desde a implantação do Plano Real, de R$ 121,44. Pode-se identificar nesse comportamento da cesta básica o peso de 80,4% na cesta representado pelos alimentos. Em um ano, esse item elevou-se 7,8%, liderado pelos acréscimos do óleo de soja (da ordem de 33%), arroz (15,4%), café em pó (quase 12%), carne (10% para a de 1ª e 13% para a de 2ª) e feijão (19,4%).

A cesta básica já subiu 12,10% nos últimos seis meses e deve continuar em alta até o fim do ano. Nesse mesmo período, a inflação calculada pelo Dieese foi de apenas 1,77%, ou um sétimo daquele aumento. As razões para essa maior pressão sobre a cesta básica podem ser buscadas na grande sazonalidade da safra e na evolução do mercado externo. No início de 1998, a diminuição da oferta atribuída à entressafra, foi a principal razão para os aumentos dos preços do arroz, feijão e óleo de soja. No caso da soja e do café, a razão está nas altas cotações encontradas por estes produtos no mercado externo, reduzindo-se a disponibilidade interna.


     A elevação dos preços dos produtos básicos está sendo puxada pelo aumento expressivo no custo dos alimentos in natura nos últimos meses. Desde o início do Plano Real, é a primeira vez que esses produtos sobem acima da inflação. O feijão, com aumento de 175,9% somente este ano, produz um grande impacto no custo de vida, especialmente para as camadas de renda mais baixa, que sentem mais a alta dos alimentos no orçamento. O arroz, que ainda está em baixa no varejo, já começou a subir no atacado, numa indicação de alta para o consumidor até o fim deste mês.

Os alimentos são responsáveis pela alta de 12,10% na cesta básica do paulistano - 31 itens pesquisados pelo Procon e Dieese em 70 supermercados da capital - nos últimos seis meses. Enquanto os produtos de higiene pessoal e de limpeza doméstica aumentaram respectivamente 4,1% e 4,9% nos últimos seis meses, os alimentos aumentaram 14% no mesmo período. Esse aumento acima da inflação começou em outubro de 97 e mantém-se em curva crescente. A ração essencial de alimentos, calculada pelo Dieese em 16 capitais brasileiras também mostra aumentos expressivos no primeiro trimestre deste ano. Das 16 cidades, somente em Florianópolis o aumento foi inferior à inflação do período, de 1,19%. Os maiores aumentos ocorreram em João Pessoa (15,73% no trimestre), Fortaleza (14,74%) e Aracaju (11,74%), por causa da seca no Nordeste.


     De qualquer forma, a tendência da economia apresenta, apesar da queda dos preços, uma situação complicada para os setores de baixa renda. De um lado, a queda de renda provocada pelo aumento do desemprego e dos inexistentes reajustes de salários. De outro a elevação mais expressiva dos itens que compõem a cesta básica, apesar da redução de consumo destes nos supermercados. O Plano Real, mostra agora uma face perversa, em que não há mais nenhum ganho para os assalariados no custo de vida e há, na questão do emprego e dos juros, uma constante perda.

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