Nível de Atividade

PIB DO PRIMEIRO TRIMESTRE NÃO CRESCEU

Ao contrário do que foi divulgado pela imprensa e promovido pelo Governo como fator de otimismo, o PIB do 1o. Trimestre de 1999 não cresceu. Para se aferir o desempenho real do PIB, a base de comparação deve ser o mesmo período do ano anterior e não o trimestre antecedente, que já refletia uma queda no produto. Assim, na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, houve queda de 0,99% do PIB.

TAXA TRIMESTRAL (Mesmo trimestre do ano anterior)

SETOR DE ATIVIDADE

1998.I

1998.II

1998.III

1998.IV

1999.I

AGROPECUÁRIA

-1,59

8,09

-0,33

-6,91

9,22

Lavouras

-4,69

11,15

-0,53

-10,90

12,63

Extrativa Vegetal

-6,66

-7,24

-7,45

-5,68

-0,99

Produção Animal

5,89

4,81

2,28

-0,17

5,94

INDÚSTRIA

1,63

0,99

-1,77

-4,22

-4,55

Extrativa Mineral

8,04

6,87

8,86

12,75

7,63

Transformação

-1,14

-1,48

-3,81

-6,40

-5,64

Construção

5,59

4,65

0,44

-2,86

-4,80

Serv. Indust. de Utilid. Pública

5,60

5,46

4,05

1,69

0,95

SERVIÇOS

0,87

0,95

1,03

-0,06

-0,20

Comércio

-2,57

-1,55

-3,67

-5,70

-2,83

Transporte

7,58

6,62

9,03

4,51

-5,55

Comunicações

4,95

1,43

12,95

5,96

-10,46

Instituições Financeiras

1,00

1,59

-0,10

-1,95

-0,99

Outros Serviços

-1,10

-1,22

-0,94

-1,86

0,13

Aluguel de Imóveis

2,10

2,10

2,10

2,10

2,10

Administração Pública

1,28

1,28

1,28

1,28

1,28

PIB

1,00

1,59

-0,10

-1,95

-0,99

Fonte: IBGE

Os fatores responsáveis foram a queda de 5,64% da indústria de transformação e de 4,80% da produtividade na construção civil. Nessa comparação, a queda de 4,55% do total da indústria neutralizou o crescimento de 9,22% da produção agropecuária. O setor de serviços ficou estável, com queda de apenas 0,2%. O "crescimento" do PIB de 1,02% no primeiro trimestre, em comparação com os últimos três meses de 1998, não pode ser considerado como indicador de retomada efetiva de crescimento da economia. Nessa comparação, há um crescimento inusitado de 17,76% da agropecuária. A indústria elevou em apenas 0,11% a produção e o setor de serviços teve alta de somente 0,92%. Nesse crescimento da agropecuária está embutida a saída de um período problemático, com seca no Nordeste e chuvas no Sul.

 

Por outro lado, o crescimento foi constatado após a queda do PIB por dois trimestres consecutivos. Há, portanto, um crescimento sobre uma base que já era baixa. Além disso o primeiro trimestre, tradicionalmente, registra crescimento da produção, por causa da reposição de estoques de produtos vendidos no Natal.

Os dados analisados abaixo mostram um retrato mais verdadeiro do atual período de recessão, incapaz de ser ocultada por qualquer manipulação.

CAI O RITMO NA PRODUÇÃO INDUSTRIAL

O crescimento das atividades industriais, que vinha em ritmo acelerado no Estado de São Paulo desde janeiro, perdeu fôlego e iniciou um período crescimento muito baixo, de praticamente nenhuma variação significativa. A redução do nível do emprego e a perda do poder aquisitivo dos salários contribuíram para a diminuição da velocidade do crescimento da produção industrial. O Indicador de Nível de Atividades (INA), medido pelo Departamento de Pesquisa e Análise Econômica (Depea) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) cresceu 0,7% em abril, em relação a março. O arrefecimento do mercado de produtos industriais foi o maior fator da redução do índice elaborado pela Fiesp. Em abril, o valor das vendas da indústria caiu 4,44% em relação a março, após a retirada dos desvios sazonais. Se não considerarmos a sazonalidade, as vendas da indústria, em abril, caíram 10,33% em relação a março e 5,9%, se comparadas a igual período do ano passado. Essa situação de relativa estabilidade da produção industrial está sendo suportada principalmente pelos investimentos em infra-estrutura de energia elétrica e de telecomunicações, que levaram a um crescimento de 4,4% nas vendas das indústria desses setores e pelo faturamento da indústria de alimentos, que cresceu 3,4% em abril. O mercado da indústria automobilística perdeu o ímpeto, após um período de vendas elevadas como resultado do acordo de emergência da indústria automobilística. Como se vislumbrou a possibilidade da não renovação do acordo, houve redução do ritmo das vendas, chegando-se ao final de abril com crescimento de somente 0,5%. Apesar da possibilidade de recuperação do setor têxtil, em função da desvalorização do real, isso não ocorreu até abril, com o nível de atividade do setor caindo 2,4% no mês passado.

DESEMPREGO AUMENTA

O desemprego na Grande São Paulo ultrapassou o limite dos 20% da população economicamente ativa (PEA) em abril, pela primeira vez em 14 anos de história da pesquisa do convênio Seade-Dieese. Como resultado disso, a população que depende exclusivamente do trabalho ficou significativamente mais pobre, pois o mercado passou a oferecer salários baixos pelo excedente de força-de-trabalho disponível. O índice de desemprego se elevou a 20,3%, o que lançou mais 62 mil pessoas na desocupação na região metropolitana. Em março, havia 1,726 milhão de trabalhadores sem ocupação. Em abril, eles somaram 1,788 milhão (+3,6%). Dessa forma, a renda dos ocupados também reduziu-se, especialmente para aqueles que não têm carteira assinada e nenhuma proteção legal. Em um único mês, o rendimento médio real dos ocupados caiu 3%.

No acumulado de 12 meses, a queda deste rendimento chega a 5,6%.
A indústria continuou demitindo assim como o comércio. Juntos esses setores foram responsáveis pelo fechamento de cerca de 59 mil ocupações.
O desemprego aberto - aquele que reúne pessoas que não exerceram nenhum trabalho, nem mesmo bicos, nos sete dias anteriores e que efetivamente procuraram empregos nos 30 dias anteriores - foi o apresentou maior taxa de crescimento em abril, chegando a 13,4% da PEA

(em março, era de 12,9%).
Isso significa, de acordo com o DIEESE, que cerca de dois terços dos desempregados estão sem exercer nenhuma atividade, nem mesmo precária, e possivelmente não contam com qualquer forma de rendimento.
Outro indicador preocupante, de acordo a pesquisa, foi o aumento do índice para pessoas de 40 anos ou mais (+6,5%) e de chefes de domicílio, homens ou mulheres (+5%). O perfil dos mais atingidos sugere pessoas que têm responsabilidade quase que exclusiva no sustento de famílias.
Esses dados mostram a trágica situação a que estão condenados os assalariados com mais idade, devido à atual política econômica do governo. Em 12 meses, o índice de desemprego cresceu 7,4%, mas para os maiores de 40 anos esse aumento foi de nada menos que 20,2% e para os chefes de domicílio de 11,6%.

O setor que apresentou pior desempenho em abril, na comparação com março, foi o comércio. O recuo no nível de ocupação foi de 4,5%, como resultado da reduzida atividade econômica do primeiro quadrimestre, mas também da continuidade da tendência de concentração de negócios em grandes grupos, que acaba sendo em detrimento dos pequenos estabelecimentos.
O nível de ocupação no comércio vem se reduzindo tanto que retornou à situação de abril de 1993, colocando a perder todos os avanços nos anos seguintes. Na indústria, que eliminou 7 mil postos no mês, o nível foi o mais baixo em 10 anos.

CAI O RENDIMENTO DOS ASSALARIADOS

A queda de 3% no rendimento médio real do assalariado na Grande São Paulo, num único mês, é o resultado da perda do poder de barganha dos assalariados, que ficam em média 39 semanas desempregados.

Em termos reais (descontada a inflação), em 12 meses o rendimento máximo dos 10% mais pobres caiu de R$ 185 para R$ 153. O rendimento mínimo dos 10% mais ricos caiu de R$ 2.056 para R$ 1.800. As faixas intermediárias perderam um pouco menos, mas todas ficaram mais pobres.
Os valores se referem aos meses de março de 1998 e deste ano. De março deste ano para abril, a queda para os mais pobres foi de 5,3% e para os mais ricos de 2,1%. De acordo com a Fundação Seade seria necessário que o produto crescesse mais de 5,5% por ano, durante uns 10 anos, para a absorção de parte expressiva do estoque de desempregados atual e do contingente de jovens que ingressa todos os anos no mercado de trabalho.
Por outro lado, a massa de rendimentos, caiu 4% no mês e 6,8% em 12 meses. A massa é representada pelo somatório de todos os rendimentos do trabalho dos ocupados, sejam eles assalariados ou não, formais ou informais.

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