Nível de Atividade

      A economia brasileira neste primeiro trimestre continuou apresentando sinais de reação às duras medidas aplicadas pelo governo em resposta às turbulências trazidas pela chamada crise asiática. O cenário ainda é de fortes quedas da produção , das vendas e do emprego, mas começam a aparecer sinais de uma tímida recuperação, agora em resposta à atenuação das medidas do governo, em especial a queda na taxa de juros.

      Um dos indicadores mais importantes , o nível da produção industrial medido pelo IBGE mostra aumento de 0,7% de março em relação a fevereiro. Enquanto em comparação com dezembro de 1997 o setor apresenta uma expansão de 3,6% , o acumulado no primeiro trimestre é negativo, com queda de -0,6%. Mais significativa ainda é a queda em termos do trimestre , ou seja, em relação ao último trimestre do ano passado, descontadas as influências sazonais, em que há um recuo de -1,7% na produção industrial. E isso é ainda mais relevante quando se percebe que todas as categorias de uso apresentam queda de produção com os bens de consumo duráveis liderando com -10,0% e até mesmo os bens de capital apresentando -1,7%.

      A ampliação de 0,7% observada em Março pode ser atribuída a uma performance positiva da maioria dos vinte setores industriais e de todas as categorias de uso, sendo que o segmento de bens de consumo duráveis que, em dezembro último atingiu o seu nível menor de produção desde o início do Plano Real, lidera este mês a expansão, com taxa de 8,4%. Este crescimento é certamente resultante da recuperação observada na indústria automobilística, cujo crescimento chegou a 40,5% na série sem ajuste sazonal. E logo atrás vem o setor de bens de capital, que depois da redução de -2,3% registrada no mês passado, volta a crescer (3,8%). Tudo indica que, com a redução mais acentuada das taxas de juros, o segmento de bens de consumo passe a registrar índices menos negativos, o que contribuiria para que no segundo trimestre a atividade fabril passasse a apresentar índices positivos frente a igual período do ano passado.

      Também as vendas reais da Indústria acusam crescimento em Março, de 19,2% segundo as CNI. Mas descontados os efeitos sazonais - maior número de dias úteis, tendência "natural " à recuperação da demanda neste mês - o índice baixa para apenas 3,31% em Março, acumulando em todo o trimestre uma alta de 3,79%. Já em abril, o faturamento do comércio está 1% acima do registrado no mesmo período de 1997 e os supermercados estão com queda de 2%, segundo sondagem da Federação do Comércio do Estado de São Paulo com lojistas da região metropolitana da capital. O segmento de vestuário, com a mudança de estação, é o mais favorecido: está crescendo 6%.

      Outro indicador positivo com relação ao nível de atividade , aparentemente, é a tendência à redução da inadimplência. Alguns indicadores parecem demonstrar isso, como o de número de cheques devolvidos. Desde o início do ano que este indicador sinalizava uma situação crítica do endividamento dos consumidores, tendo os cheques devolvidos por falta de fundos ficado em 0,97% do total em Janeiro e 0,93% em fevereiro. Em Março foi o recorde, com a taxa de 1,06%. Já em abril o numero reduziu-se para 1,04%. Essa redução, no entanto, pode ser analisada como resultante de outros fatores como o maior cuidado dos comerciantes na aceitação dos cheques ( houve um aumento de 34% de consultas ao Recheque , em relação a março) , a redução do consumo dos consumidores com alto nível de endividamento e o encerramento do período de altos gastos com escolas, impostos, etc. É evidente que só uma mudança significativa da política econômica ,que leve à redução dos juros e à elevação do nível de emprego poderá assegurar uma real diminuição da inadimplência.

      O comportamento do mercado de trabalho continua , nesse sentido, expressivamente negativo. De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego, da Fundação Seade e do Dieese a taxa de desemprego total elevou-se em março, atingindo 18,1% da População Economicamente Ativa (PEA), o que representa um total de 1.556.000 pessoas desempregadas na Região. Este comportamento, embora esteja relacionado com a situação da economia após as medidas do governo, é um fato em parte "normal" nos meses iniciais de cada ano e reflete a redução sazonal da atividade econômica.

      Apesar do nível elevado, a intensidade do crescimento, entre fevereiro e março, foi uma das menores já registradas (5,2%) desde o início da pesquisa, em 1985, superior apenas à verificada no mesmo período de 1995. O contingente em desemprego foi estimado em 1.556.000 pessoas, neste mês.

DESEMPREGO

Indicadores

Mar-97

Fev-98

Mar-98

Em 1.000 pessoas

População Economicamente Ativa

8.421

8.544

8.598

 

 

 

 

Desempregados

Total

1.263

1.470

1.556

Aberto

834

949

1.032

Oculto

429

521

524

Taxa de Participação (%)

Total

60,8

60,8

61,1

Taxas de Desemprego (%)

Total

15,0

17,2

18,1

Aberto

9,9

11,1

12,0

Oculto

5,1

6,1

6,1

Fonte: SEP. Convênio SEADE - DIEESE.

 

      Outro indicador importante da grave situação do mercado de trabalho são os números divulgados pela FIESP em relação à indústria paulista. Entre Novembro de 1997 e Abril de 1998 houve a redução de 99. 688 vagas. Se desde maio de 97 a indústria não apresenta taxa positiva de criação de vagas, até Outubro o nível de emprego caía , em média, 0,45% ao mês. Depois de Outubro, o percentual atingiu os 1,56% em janeiro.

      Em abril a indústria parece ter voltado aos índices antigos, tendo reduzido o emprego em 0,57%. Por outro lado, no quadrimestre a indústria teve menos 64.321 vagas e teve um volume de vagas fechadas 75% superior ao mesmo período em 1997. A tendência é que este quadro não seja alterado no substancial, mesmo após a queda da taxa de juros.

      A perspectiva é que as demissões comecem a declinar a partir do próximo mês, mas as contratações do segundo semestre, não vão compensar os postos de trabalho eliminados nos primeiros seis meses do ano. A tendência de crescimento do desemprego dificilmente será revertida em menos de dois anos. A oferta de trabalho só cresce efetivamente com aumento de investimentos. Para criar novas vagas, o País precisaria investir pelo menos o equivalente a 22% do Produto Interno Bruto (PIB), cinco pontos percentuais acima do volume previsto para este ano. Mas para que isso fosse possível, as taxas de juros teriam de cair muito O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) também já prevê para este ano um índice de desemprego superior ao de 1997. A média projetada pelos técnicos do DIEESE é superior aos 16% do ano passado.

 

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