Economia Mineira: Desempenho Econômico

No primeiro número do ECOSYS, procurou-se explicitar que um movimento de desaceleração, ainda sem uma tendêndia definida, dava seus primeiros sinais na segunda metade do terceiro trimestre do ano. O quadro final do terceiro trimestre do ano confirmou, em parte, o processo de desaceleração. Entretanto, ficou mais claro que este movimento está localizado em alguns setores específicos da economia.

Dentre os indicadores disponíveis pode-se notar que em termos de faturamento, a indústria de transformação, depois de uma queda no mês anterior recupera, surpreendentemente, seus níveis de vendas em Agosto, quando comparado a Julho/95. A taxa de crescimento das vendas atinge 5,91%, com destaques para a recuperação do setor de material de transporte, com uma expansão de 76,64%, segundo informações colhidas junto ao departamento de análise econômica da Fiemg.

O destaque negativo, em termos de faturamento, fica com o setor de mecânica, que tem suas vendas reduzidas em 27,04%.

Em relação ao indicador de nível de emprego, o movimento geral aponta para a manutenção de um quadro de franca desaceleração. A queda em Agosto em relação a Julho situou-se na faixa de 1,9% para a indústria de transformação. Os destaques ficam por conta dos setores de Vestuário, Calçados e Artefatos de Tecidos, com queda de 5,23%, e Metalurgia e Minerais Não-Metálicos com respectivamente 2,19% e 3,17% de queda nos seus níveis de emprego.

No caso do setor Vestuário, Calçados e Artefatos de tecidos, cabe ressalvar que seus impactos, em termos de renda e receitas fiscais, são consideráveis no caso de Belo Horizonte, onde existe um forte polo de confecção.

Os indicadores de consumo de energia indicam um comportamento compatível com o desempenho industrial e comercial. O destaque fica para retomada em Agosto do consumo de energia comercial, que cresce a uma taxa de 4,95%, quando comparado a Julho de 95. Este resultado, depois de três meses seguidos de queda, pode representar um alento a atividade comercial.

O movimento do consumo de energia comercial, em parte, está explicado pelo comportamento de Comércio Varejista. Este cresceu em Agosto, quando comparado a Julho de 1995, a uma taxa expressiva de 9,19%.

Os ramos de atividade que mais se destacaram foram as concessionárias de veículos(18%), móveis e decoração (17,89%), e vestuário (17,81%), segundo informações, para a RMBH, da Federação do Comércio do Estado de MG (Fiemg).

Um importante vetor de crescimento, já enfatizado no primeiro número do ECOSYS , é o setor exportador. O mês de agosto marca uma expressiva ampliação dos negócios externos, quando a taxa de crescimento das exportações atinge a faixa de 20,88%, quando comparado a Julho de 1995 (ver primeira tabela).

Os destaques ficam para os setores de Material de Transporte e Produtos Alimentares que ampliam suas vendas, respectivamente em 81,67% e 67,36%, segundo informações do Departamento de Análise Econômica da Fiemg. Em relação ao primeiro setor, o movimento é explicado pela retomada dos negócios no setor automobilístico (Fiat), principalmente com as vendas para o Mercosul. Quanto ao setor de Produtos alimentares o movimento é sazonal.

Evolução do Setor Público

O comportamento das receitas de ICMS, do Estado de Minas Gerais, após queda de 5% em agosto, quando comparada a Julho/95, depara-se com um ligeira recuperação da arrecadação em setembro de 1995, quando esta cresce, segundo dados preliminares, em torno de 1,98%.

Uma questão de fundo, em termos de comportamento do setor público, será o desdobramento do processo agudo de endividamento das mais dinâmicas economias regionais , São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que estão praticamente estrangulados em termos de capacidade de investimentos.

Um exemplo deste quadro está na proposta orçamentária de Minas Gerais, que sinaliza com um gasto de 81,38% das receitas estaduais com pessoal para o ano de 1996.

Independente do quadro de incertezas que ainda domina os rumos da política econômica do país, o Estado de Minas Gerais pode viver uma nova fase de crescimento, não apenas impulsionada pelos primeiros momentos do Plano Real mas, também, pela perspectiva de investimentos externos no Estado, bem como a possibilidade de retorno de políticas de desenvolvimento de infra-estrutura e direcionamento vocacionais de cada região do Estado.

Este movimento geral, em termos do setor público, está consubstanciado no Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI). O conjunto de programas estruturantes revela, estrategicamente, os caminhos futuros do Estado. Reforma e Modernização do Estado, Implantação de Eixos Estratégicos de Transporte, Investimento em Ciência e Tecnologia, Educação Básica de Qualidade para todos, Saúde Pública e Projetos de Aproveitamento de Recursos Hídricos para Irrigação nas Bacias dos Rios São Francisco, Jequitinhonha e Pardo explicitam os seis vetores estratégicos de crescimento. Estes projetos, segundo o Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), demandarão recursos da ordem 10 bilhões de reais.

Há grandes perspectivas, também, com os investimentos programados, pelos grandes empresas estabelecidas no Estado, em sua maior parte empresas estrangeiras e estatais, que anunciam uma injeção de recursos da ordem de aproximadamente outros 10 bilhões de reais. Os destaques ficam por conta dos investimento da Telemig (2,1 bilhões), Fiat (2.1 bilhões), Vale do Rio Doce (1,2 bilhões), Cemig (1,5 bilhões), Investimento Privado em concessões do setor elétrico (1 bilhão) e, aproximadamente outros 3 bilhões de reais distribuídos por um série de empresas já estabelecidas no Estado ou em fase de se estabelecer (Belgo Mineira, Cenibra, MBR, Usiminas, Acesita, Cargil/ABC/Rezende, regap (petrobrás), Rodhia-Ster, American National Can e Pepsi-Cola).

Existe, no entanto, um quadro de indefinição que está contaminando as decisões de investimento dos capitais privados nacionais e, especificamente, os industriais mineiros. Por outro lado, a estratégia de concorrência das empresas estrangeiras passa por uma visão de mais longo prazo e que está explícita nas suas decisões de investimento já em andamento.

Em síntese, o movimento da economia mineira neste final de terceiro trimestre , apesar da existência de sinais de desaceleração do crescimento, revela um quadro de relativo otimismo, principalmente sustentado nas decisões de investimento estrangeiro no estado e na manutenção de níveis de ocupação industrial que não denotam um quadro de recessão profunda.

O movimento pendular da política econômica federal, com claros impactos nas economias regionais, somente permitirá definir uma tendência clara de crescimento ou ajustamento com as definições no âmbito do Congresso nos próximos meses.


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