Mercado Financeiro e Política Monetária

AS CRISES FINANCEIRAS E O MESMO REMÉDIO

Em novembro do ano passado escrevemos um artigo afirmando que as altas taxas de compulsório como controle da liquidez e da especulação cambial não conseguiram dar conta dos efeitos da crise externa na economia brasileira. A duplicação da taxa de juros internas visou colocar a rentabilidade de ganhos do capital estrangeiro acima da expectativa de desvalorização do real.

Naquela ocasião chamamos atenção para os desequilíbrios na balança comercial . Logo após a implementação da 3ª fase do plano real e estabilização da economia, sob o argumento de abastecer o mercado interno e diminuir a pressão inflacionaria o governo liberou as importações. Passado os primeiros meses o governo deveria ter procurado ajustar este desequilíbrio. No entanto, para manter coerente a postura "Neo-Liberal" o governo não foi contra os fundamentos do livre comércio, mesmo arriscando a perda de grande quantidade de reservas cambiais em importações desnecessárias.

Naquela época o ataque especulativo nos Tigres Asiáticos - Tailândia, Indonésia, Filipinas e Malásia - deveu-se à facilidade dos agentes econômicos tomarem recursos no sistema bancário doméstico e simultaneamente realizarem operações de compra de moeda estrangeira no mercado futuro, ou na venda da moeda doméstica no mercado futuro esperando recompra por um preço menor. O aumento da demanda por moedas estrangeiras pressionou seus preços para cima e desestabilizou a relação com a moeda interna, contribuindo fortemente para gerar a crise em questão.

Após um mês e meio da crise monetária e cambial na Ásia, quando grande parte dos economistas, analistas de mercado e representantes do governo acreditavam que a economia brasileira não mais seria atingida, a crise do sudeste asiático se espalhou por todo o mundo. As bolsas de Frankfurt, Londres, Tóquio e Nova York se ressentiram. No entanto, na última semana de outubro de 1997 até os primeiros dez dias de novembro, o governo precisou vender bilhões de dólares de reservas, dobrar a taxa de juros interna, além de divulgar o " pacote fiscal" de R$ 20 bilhões de reais.

As medidas emergenciais do final do ano passado tiveram como conseqüências negativas aumento do déficit público e da recessão econômica. Sem entrar em detalhes o diretor da Política Monetária, Francisco Lopes, declarou que naquela época o Brasil abriu brechas fiscais para atrair investimentos estrangeiros, aumentando as reservas e atenuando as especulações de desvalorização do real.

Novamente a situação se repete, infelizmente com mais força pois a cada crise a economia brasileira fica mais vulnerável. A crise recente mostrou que não adianta engordar as reservas artificialmente com recursos voláteis, que a qualquer sinal de crise migram. Nos últimos dois meses as reservas brasileiras caíram de US$ 74 bilhões para US$ 48 bilhões de dólares.

Outra vez o receituário é combinar alta da taxa de juros com corte dos gastos e aumento dos impostos. As taxas de desemprego que já estão na ordem de 7,83 % vão subir ainda mais, pois com estes patamares de juros ao invés de migrar para o setor produtivo, os recursos migram para o setor financeiro. A dívida interna que cresceu mais de 100% ao longo do governo Fernando Henrique Cardoso - passou de R$ 153 bilhões de reais para R$ 346 bilhões - vai dar um salto com as atuais taxas de juros - TBAN 49,5 % e Taxa efetiva dos títulos públicos 34,25%aa.a. -. As contas públicas vão ser pressionadas ainda mais. No atual contexto, apenas para pagamentos de juros internos o Brasil está desembolsando cerca de 7,3% do PIB ao ano, ou seja, cerca de R$ 66 bilhões de reais.

De um ano para cá nenhuma medida de restrição às importações ou à vinda de capital estrangeiro especulativo foi tomada. Também as reformas fiscais e da previdência não foram implementadas. Não temos política industrial nem política agrícola. O governo vem tomando medidas emergenciais com vistas a apagar um incêndio que parece dominado depois de uma série de medidas que sacrificam a sociedade civil, mas que volta poucos meses depois requerendo novos sacrifícios.

O receio é que o enfrentamento pelo governo brasileiro aos ataques especulativos, via disponibilização de reservas, termine por transformar tudo em "pó": recursos advindos das privatizações; aumentos de impostos; cortes de gastos, despesas e investimentos governamentais; empréstimos e financiamentos externos.

O custo de protelar a crise é extremamente alto e o pior é que todo sacrifício tem servido apenas para ganhar um pequeno tempo sobre os ataques especulativos.

A grave crise financeira internacional que assola principalmente os países emergentes mas também as grandes potências submete o capital produtivo aos comandos anárquicos do capital financeiro globalizado e eleva a recessão, os níveis de desemprego e de miséria. É urgente que os diversos blocos regionais de países pressionem o (G-7) grupo dos 7 países mais ricos do mundo a encontrar formas de controlar e regulamentar o capital financeiro internacional, sob risco de uma crise sistêmica do capitalismo. Os países emergentes terão novamente de convencer os países ricos, tal qual fizeram em Bretton Woods, que não se trata de serem "a vaca leiteira do mundo" mas eles terão de assumir parte dos prejuízos desta crise.

Uma outra questão instigante é que a liberalização financeira não instituiu mercados de capitais eficientes como supunham os defensores da postura neoclássica. Ao contrário, o permanente papel do Estado enquanto regulador é fundamental ao funcionamento do sistema financeiro.

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