Mercado Financeiro e Política Monetária

 

Crises Internacionais e Taxas de Juros Internas

 

 

A recessão, sobretudo nas economias que exercem grande influência nos fluxos comerciais e financeiros internacionais causam impacto no crescimento econômico do resto do mundo, principalmente nos países de economias mais frágeis e dependentes.

 No caso específico do capital estrangeiro aplicado em papéis financeiros no Brasil, o risco de uma desvalorização do câmbio, que comprometa a rentabilidade da aplicação tem sido evitada, via aumento da taxa de juros internas, o que , por outro lado contrai os investimentos produtivos e aumenta o nível de desemprego da economia nacional.

 No entanto, a dependência do capital externo exige que a economia brasileira pratique juros altos internamente. Esta situação é em especial problemática para o caso de investimentos externos concentrados fora do setor produtivo. Se uma parte substancial dos investimentos externos estivessem sendo atraídos para o lado real da economia, não haveria tanta pressão para o aumento da taxa de juros. A queda da taxa de juros é benéfica para estimular o investimento produtivo porque o custo da produção tende a ficar mais barato. O aumento da produção e da oferta amplia o nível de emprego e o consumo é estimulado.

 

Como os investimentos estrangeiros estão concentrados no setor financeiro da economia e em geral em prazos curtos e médios, o risco Brasil refere-se principalmente ao risco de desvalorização cambial. Isto faz com que a taxa de juros seja jogada para cima.

 

Toda decisão de investimento considera inicialmente a relação entre risco e rentabilidade. Com rentabilidade igual, o capital flui para onde o risco é menor. Somente taxas de juros muito elevadas atrai capital para investimentos com elevado risco. Além disto, o ambiente atual de globalização das atividades econômicas favorece a mobilidade de recursos. Há uma enorme rapidez de transferências monetárias para onde as incertezas são menores.

 

A decisão do investidor estrangeiro em aplicar no Brasil, ao invés de aplicar na Alemanha ou nos Estados Unidos da América advém da possibilidade que ele possui de auferir maior rentabilidade, porque em relação à segurança e estabilidade, sem dúvida nenhuma somos menos atrativos. Há mais incertezas em aplicar aqui do que lá. Somente com rentabilidade acima das esperadas lá fora, o investidor externo opta em investir aqui e aceita correr o risco cambial.

Se os Estados Unidos optam por uma política monetária restritiva, para por exemplo combater o risco de crescimento da inflação e o FED ( banco central americano ) vende títulos no mercado, ocorre queda da liquidez na economia americana e aumento da taxa de juros. Internamente as taxas de juros brasileiras tendem a subir para não perder capital externo e/ou continuar atraindo investimentos na mesma proporção.

 

Apenas para elucidar o risco de desvalorização cambial, optamos por um exemplo. Suponha que um investidor estrangeiro tenha US$ 10.000 para aplicar no Brasil. Com a cotação do dólar de R$ 1,16, o investidor recebe em troca dos seus dólares o equivalente a R$ 11,600,00. Se o investidor, por exemplo, tiver a alternativa de comprar uma nota ou título do governo de 12 (doze) meses, que remunere juros pré fixados de 21%ªª, acrescidos do indexador, IGP-DI ( índice geral de preços - disponibilidade interna) e se este índice acumular o mesmo percentual do último ano, 4,51%ªª, a rentabilidade final do papel acumulado será de 26,45% ªª e o resgate bruto do título daqui a um ano, de R$ 14.668,20.

 

No entanto, suponha que devido às intempéries ligadas às relações internacionais o Brasil promova uma desvalorização do câmbio de 30%ªª para tornar nossos produtos mais competitivos externamente. A cotação do dólar passaria de R$ 1,16 para R$1,51, ou seja, com apenas US$1 obtém-se R$ 1,51 reais.

 

A desvalorização do câmbio é interessante para quem possui dólares e quer trocá-los por reais, mas desinteressante para quem possui reais e quer trocá-los por dólares. O investidor do nosso exemplo estaria nesta segunda situação. Ele após a aplicação no papel de renda fixa possui reais e quer transformá-los em dólares para enviar ao seu país de origem.

Mesmo considerando isenção de tributação, os R$ 14.668,20 que o investidor auferiu na aplicação do título de renda fixa não mais o possibilita reaver os US$ 10.000 dólares iniciais, mas apenas US$ 9.714, o que, é claro, seria extremamente desinteressante como aplicação financeira.

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