O Mercado Financeiro e as Oscilações das Taxas de Juros.

 

          Apesar da crise das bolsas de valores e as perdas substanciais nos meses de agosto e outubro passado, o ranking das aplicações financeiras de 1997 mostra que, em termos reais as bolsas de valores de São Paulo e do Rio de Janeiro lideraram os rendimentos das aplicações. Depois das aplicações em bolsa os Fundos de ações e de renda fixa obtiveram bom rendimento, nesta ordem. Para a renda fixa a rentabilidade guardou relação inversa com o prazo . A performance do CDB pré-fixado e da poupança ficaram com o 6º e 7º lugares respectivamente. As piores performance foram do ouro e do dólar respectivamente.

          Especificamente em relação aos fundos de renda fixa a performance de 1997 foi comprometida com a duplicação da taxa de juros no final de outubro do ano passado.

          Mesmo em uma economia como a brasileira em que é comum oscilações nas taxas de juros, uma duplicação dos juros como aconteceu causou um impacto acentuado. Sob o ponto de vista do investidor, talvez um susto maior do que o do "crash" das bolsas de valores tenha sido a involução das cotas dos Fundos de Renda Fixa . O investidor financeiro sempre esteve muito seguro de que apenas as aplicações de renda variável, que contêm ações, são arriscadas. Assim, os investidores que não gostam de surpresas optavam pelo porto seguro das rendas fixas - caderneta de poupança, certificados de depósitos bancários e na série de fundos, independentemente da composição da carteira . Estes investidores entendiam que estavam completamente tranqüilos quanto à rentabilidade.

          Com a duplicação da taxa de juros, o investidor, sobretudo o mais conservador, ficou surpreso com a variação negativa das cotas nos seus fundos de aplicações ou de investimentos financeiros. O investidor e o mercado de uma forma geral, de uma forma específica não contavam com a perda de valor dos papeis para desconto, em função do aumento da taxa de juros.

          Ocorre que, na carteira dos Fundos de Investimentos e de Aplicações Financeiras o percentual de papeis pré-fixados são descontados por um valor mais próximo ao valor de face em função direta da data de vencimento e indireta das taxas de juros implícita na compra do papel. O valor à vista é calculado sempre descapitalizando o valor de face ou nominal pela taxa de juros em função do tempo - quanto maior, maior o desconto .

          Por determinação do Banco Central, diariamente as instituições financeiras devem revalidar seu patrimônio considerando taxa de juros e valor de desconto dos papeis. Como a remuneração do aplicador eqüivale à valorização diária das cotas - valor do patrimônio em relação à quantidade de cotas - um súbito aumento dos juros desvaloriza o patrimônio do fundo e do investidor.

Política Monetária e a Taxa de Juros

          Uma avaliação macroeconômica mostra que a duplicação da taxa de juros foi fundamental para que não houvesse uma saída súbita de capital estrangeiro colocando em risco a estabilização da economia nacional. Naquele momento de crise internacional aguda nos tigres asiáticos esta foi a alternativa encontrada pelo governo para que o risco de uma desvalorização do câmbio não comprometesse os ganhos do capital estrangeiro investido internamente.

          A partir de novembro passado, gradativamente, as taxas de juros começaram a cair. A queda da taxa de juros têm considerado um equilíbrio frágil em que o ponto mais importante tem sido garantir que não haja fuga de capitais estrangeiros e perda de reservas.

          As taxas de juros só não caíram mais rapidamente porque o risco de uma depreciação do câmbio, embora menor atualmente do que em outubro passado vêm sendo diluído gradativamente. E é nesta mesma proporção que os juros vêm caindo, uma vez que o capital estrangeiro é remunerado pela diferença entre os juros internos e a desvalorização do câmbio. Quanto maior a desvalorização do câmbio, menos dólares o investidor externo resgata no final da aplicação.

          A involução dos juros tem dependido mais do cenário internacional do que da necessidade interna de crescimento do emprego e da produção.

          Em março passado a reunião do COPOM ( Comitê de Política Monetária ) derrubou a Taxa Básica do Banco Central de 34,5% para 28% a.a.A última reunião do COPOM, em Abril, reduziu a TBC de 28% a.a. para 23,25% a.a e a TBAN de 38% a.a. para 35,25% a.a., valores que passaram a vigorar a partir de 16 de abril. Há,no entanto, um fator muito importante na definição, senão da trajetória, pelo menos no rítmo que esta queda continuará se processando - é a reunião do FED, Banco Central americano - que ocorrerá no dia 19 de maio próximo, um dia antes da próxima reunião do COPOM.

          Se houver um aumento na taxa de juros americana, como tem acenado alguns analistas a tendência de queda do rítmo nas taxas de juros internas não deve permanecer, podendo inclusive haver um aumento das taxas de juros.

          Assim, mesmo que o ambiente interno esteja marcado por clima de grande tranquilidade: as reformas propostas pelo Governo no congresso sejam aprovadas; o mercado cambial esteja sobre controle e haja uma intensificação do ciclo de privatizações , atraindo mais dólares para a economia doméstica, há risco de crescimento da taxa de juros internas em função do ambiente externo.

          A opção do governo está entre desvalorizar o câmbio e corrigir o desequilíbrio das contas externas, baixando os juros para estimular a retomada do crescimento e do emprego e atenuando o custo fiscal da dívida interna ou manter câmbio valorizado e juros altos para reter o capital externo e garantir a estabilização da economia. O governo tem reafirmado sua preferência pela segunda alternativa.

          Sem dúvida nenhuma a cota de sacrifício da população brasileira poderá continuar por alguns anos ainda e a retomada do crescimento e do emprego na economia serão postergadas mais uma vez

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