Inflação e Nível de Preços

   Em setembro  , o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) registrou novamente deflação na cidade de São Paulo. Repetindo os índices dos 2 meses anteriores, o IPC acusou queda de 0,66%, refletindo as tendências recessivas geradas pelo aumento da taxa de juros no mês passado. Dos sete grupos de preços pesquisados, cinco fecharam com variação negativa. Depois dos preços dos artigos de vestuário, que recuaram 5,01%, o grupo transportes registrou a maior baixa (-0,73%), pressionado pela queda das cotações da gasolina (-1,66%) e do álcool combustível (-3,36%). Em seguida, estão as despesas pessoais, cujos preços recuaram 0,36% em setembro.

Os preços da habitação caíram 0,18% em setembro, em contraponto à influência para cima da subida de 0,82% das tarifas de água e esgoto. No que se refere aos alimentos, a queda dos preços foi de 0,14%. Também o ICV apresentou deflação, desta vez de 0,11%. Segundo o DIEESE , trata-se de um tipo de deflação não uniforme. Por isto, está trazendo graves perturbações no orçamento dos consumidores. Despesas como saúde e educação, com preços sempre em elevação, pesam mais no orçamento familiar, desincentivando a aquisição de bens como eletrodomésticos, roupas e calçados, cujos preços estão caindo em função da retração da demanda no trimestre.

Tudo isso se dá em um contexto onde os salários dos trabalhadores estão estagnados ou, quase sempre, em queda. A deflação, em geral, reflete a redução do nível de atividade na economia. Nada indica que os preços dos grupos de saúde e educação vão parar de subir. Isso quer dizer que à recessão poderá se sobrepor um desvio dos gastos em bens para em serviços essenciais, tendo em vista a precariedade da assistência médica e da rede escolar de responsabilidade do Estado. Ou, alternativamente, um aumento ainda maior da pressão social sobre Estado para o oferecimento destes serviços, num ambiente marcado pelo corte de gastos nesta área.  

No último semestre, a inflação foi de - 0,71%. Em igual período, enquanto os preços do grupo alimentação caíam 1,16% e os do vestuário reduziam-se em 5,08%, os do grupo saúde (convênios, assistência e medicamentos) se elevaram em 4,44%. Em setembro, as maiores altas foram registradas nos preços de assistência médica (+1,73%), medicamentos (+0,18) e produtos in natura e semi-elaborados (+0,98%). Os preços das roupas caíram -2,27%, e os dos calçados -1,05%.

O IPC de setembro foi marcado especialmente, como vimos, pelo recuo dos preços dos artigos de vestuário, que caíram 5,01% e que contrabalançaram a elevação dos preços de alguns alimentos, como carne e arroz, resultante da entressafra. A tendência observada neste período é que a redução nos preços dos artigos de vestuário varie entre 1,5% e 2% em função das remarcações. Porém, com a elevação da taxa de juros, o comércio diminuiu o nível dos estoques e "queimou" o que foi possível, reduzindo ao mesmo tempo os preços dos eletro-letrônicos, cujos preços tiveram redução de 1,05% no período.

Já o Índice Geral de Preços no Mercado (IGPM) acusou inflação de 0,08% no período de 21 de setembro a 20 de outubro, de acordo com pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Isso mostra uma tendência à volta da inflação, já que esta foi a primeira vez após três meses que o índice apresentou alta. A pesquisa anterior da inflação de 30 dias apontou deflação de 0,08%. O IGPM é composto por três índices: o Índice de Preços no Atacado (IPA), que subiu 0,09%; o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que registrou inflação de 0,08%; e o Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), que subiu 0,05%.

IPC-FIPE - Variação e Contribuição - Mensal
Em %

 

 Item (Peso)

Setembro

Variação

Contribuição

Alimentação (30,81%)

-0,14

-0,04

Habitação (26,51%)

-0,18

-0,05

Transporte (12,97%)

-0,73

-0,09

Desp. Pessoais (12,52%)

-0,36

-0,05

Vestuário (8,66%)

-5,01

-0,43

Saúde (4,58%)

0,12

0,01

Educação (3,95%)

0,23

0,01

TOTAL

-0,66

-0,66

Fonte: IPC-FIPE

As projeções do IPEA para outubro/98 e novembro/ 98 da taxa de variação de preços - medida pela média do IPC-FIPE, IGP-M e INPC - são de uma taxa de inflação de 0,14% e 0,34%, respectivamente.

A taxa de inflação acumulada em 12 meses, no mês de setembro - medida pela média do IPC-FIPE, IGP-DI e INPC -, continuou em queda, evoluindo de uma elevação de 2,59%, em agosto, para 2,02% em setembro. Em setembro, a média dos três índices acusou redução da taxa de inflação acumulada em 12 meses em setembro .

Em relação aos preços no atacado, o IPA-Indústria, acumulado em 12 meses, acusou uma taxa de variação de 0,51%, no mês de setembro, frente aos 0,92% registrados no mês anterior. Este menor crescimento dos preços industriais no atacado reflete o impacto do aumento das taxas de juros no setor. No que se refere aos produtos agrícolas, o IPA-Agrícola acusou, no mês de setembro, uma elevação de seus preços em relação ao mês de agosto, passando de 0,35% para 0,82%. Este comportamento dos preços agrícolas não surpreendeu, pois refletiu o impacto da entressafra de alguns produtos como carne bovina, cereais e feijão. No acumulado de 12 meses, obteve-se uma elevação de 8,27% para 6,61%, cuja explicação está na elevação ocorrida em setembro/ 97 (2,39%) muito mais alta que a de outubro/ 97 (0,83%).

No período de fim de ano é esperada uma elevação dos preços no varejo. Além disso, com o ajuste fiscal do governo, os aumentos de tributos poderão ser repassados para os preços cobrados do consumidor. Se isso se conformar, não se concretizará a deflação anual nos níveis acumulados até setembro de 1,26% . Apesar disto, é ainda possível que o IPC-FIPE acuse uma taxa de deflação no término de 98 resultante, agora, das tendências atuais de retração da atividade econômica. Técnicamente, a recessão caracteriza-se por dois trimestres seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB) dessazonalizado. No primeiro trimestre de 98, o PIB brasileiro cresceu 0,1% em relação ao último trimestre de 97. No segundo trimestre deste ano o acréscimo foi de 0,6% ante o período imediatamente anterior. No terceiro trimestre houve um aumento de 0,8% em relação ao segundo. Para o quarto trimestre, a perspectiva é de retração de 0,9% na comparação com o terceiro trimestre. Embora em 98 não tenhamos,técnicamente, uma recessão, ela parece já ter se iniciado agora, vindo a se concretizar como tal em 99.

No que se refere ao nível de preços, de acordo com as projeções do mercado, o IPC-FIPE deve registrar uma taxa de deflação por volta de 0,2% em 1998 .No acumulado do ano, até o mês de setembro, o IPC-FIPE registrou uma taxa de variação de preços negativa de 1,3% e nos últimos 12 meses registrou alta de apenas 0,04%.

Variação Acumulada em 12 Meses
Em  %

Mês

Índices de preços

IGP-DI

INPC

FIPE

Janeiro 97

9,11

8,42

9,40

Fevereiro

8,75

8,14

8,98

Março

9,77

8,56

8,96

Abril

9,65

8,20

7,91

Maio

8,16

6,95

7,07

Junho

7,60

5,92

7,08

Julho

6,54

4,85

5,81

Agosto

6,49

4,30

4,65

Setembro

6,98

4,38

4,59

Outubro

7,11

4,29

4,21

Novembro

7,70

4,09

4,41

Dezembro

7,49

4,34

4,83

Janeiro 98

6,75

4,38

3,80

Fevereiro

6,33

4,48

3,62

Março

5,35

4,28

3,17

Abril

4,60

4,12

3,15

Maio

4,52

4,76

3,12

Junho

4,09

4,55

1,87

Julho

3,60

4,07

0,97

Agosto

3,46

3,59

0,74

Setembro

2,84

3,16

0,05

FONTE:FIPE

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