Setor Externo

O déficit em conta corrente, que inclui a balança comercial, serviços e transferências unilaterais, foi de US$ 924 milhões em fevereiro. Trata-se do menor déficit desde maio de 1996, quando o resultado ficou em US$ 872 milhões.

O resultado reflete a desvalorização do real ante o dólar, após a recente mudança na política cambial, que resultou no superávit comercial e a queda nas despesas de diversos itens do segmento serviços, como viagens internacionais e transportes. A piora do déficit medido em 12 meses, que passou de 4,68% do Produto Interno Bruto (PIB) em janeiro para 4,71% em fevereiro, deve-se, de acordo com o Banco Central, à queda do PIB em dólar.

Com exceção do crescimento das despesas com juros e da maior remessa de lucros e dividendos, todos os demais segmentos que compõem a conta corrente apresentaram significativa redução com relação ao mês de janeiro. De acordo com os dados divulgados pelo Banco Central, em fevereiro as exportações superaram as importações em US$ 219 milhões, enquanto o déficit em serviços caiu de US$ 1,6 bilhão em fevereiro de 1998 para US$ 1,4 bilhão em fevereiro deste ano. Contribuiu para a queda do déficit uma menor despesa com viagens internacionais, transportes e serviços diversos, itens que reagem mais rapidamente à desvalorização do real.

Em fevereiro a queda mais acentuada ocorreu em viagens internacionais. As receitas permaneceram no nível de 1998, chegando a US$ 118 milhões, enquanto as despesas de brasileiros no exterior caíram de US$ 405 milhões para US$ 220 milhões. Em fevereiro de 1999, o resultado líquido das viagens internacionais foi um déficit de US$ 102 milhões ante déficit US$ 292 milhões em fevereiro de 1998. O mesmo ocorreu com transportes. A despesa líquida caiu de US$ 290 milhões em fevereiro do ano passado para US$ 176 milhões em fevereiro último. No item serviços diversos as despesas foram da ordem de US$ 189 milhões em fevereiro do ano passado e de apenas US$ 37 milhões no mesmo mês deste ano.

Com relação às despesas com juros, o crescimento foi acentuado. Essas despesas somaram US$ 473 milhões em fevereiro de 1998 e chegaram a US$ 759 milhões no mesmo mês de 1999. No acumulado de janeiro e fevereiro de um 1998 para 1999, as despesas com juros passaram de US$ 1,02 bilhão para US$ 1,48 bilhão. Cresceram também as remessas de lucros e dividendos para o exterior. O resultado foi de US$ 265 milhões em fevereiro de 1998 e passou para US$ 341 milhões em fevereiro deste ano.

 

O melhor desempenho da conta de capitais - que inclui investimentos diversos, empréstimos e financiamentos -, não impediu que o balanço de pagamentos, registrasse déficit de US$ 469 milhões, devido a esse crescimento da conta de juros. A perda de reservas, no mês, foi de US$ 534 milhões no conceito de caixa e de US$ 679 milhões no conceito de liquidez internacional.

A melhora geral no fluxo de capitais não foi suficiente para a rolagem de toda a dívida. Os empréstimos e financiamentos foram deficitários em fevereiro em US$ 1,57 bilhão - somado a janeiro foram US$ 2,82 bilhões que deixaram de ser rolados e tiveram de ser pagos. A falta de créditos de curto e médio prazo em janeiro provocou uma queda de US$ 4 bilhões na dívida externa - de US$ 235 bilhões em dezembro para US$ 231 bilhões em janeiro.

Os investimentos diretos, por exemplo, foram da ordem de US$ 1 bilhão, sem contar os US$ 3,8 bilhões da privatização da Telebrás.

Com a privatização, que resulta num investimento direto de US$ 5,712 bilhões para os dois primeiros meses deste ano, o BC informa que a necessidade de financiamento externo caiu para 0,72% do Produto Interno Bruto (PIB).

Com relação aos investimentos em bolsa o resultado líquido, em fevereiro, foi positivo em US$ 149 milhões. O Fundo de Investimento de Brasileiros no Exterior (Fiex), que registrou, em janeiro, saída de US$ 1,2 bilhão, em fevereiro registrou ingresso de US$ 123 milhões. Já o Fundo de Renda Fixa Capital Estrangeiro apresentou saída em fevereiro de US$ 258 milhões ante US$ 1,2 bilhão em janeiro A captação de curto prazo foi positiva, em fevereiro, em US$ 416 milhões, embora as operações com instituições no exterior, ou seja, as contas correntes de não residentes (CC5) sejam deficitárias em US$ 522 milhões no mês.

 

Superavit em Março

A balança comercial apresentou em março um superávit de US$ 15 milhões. Esse é o segundo resultado positivo da balança comercial desde a mudança cambial em janeiro, mas ainda não reflete o ganho de competividade das exportações brasileiras com a desvalorização do real ante o dólar. No acumulado do ano, a balança comercial apresenta déficit de US$ 520 milhões. O saldo de março é bem inferior ao de fevereiro, que alcançou US$ 219 milhões. A balança comercial começou o ano com déficit de US$ 754 milhões, em janeiro.

As exportações brasileiras chegaram em março a US$ 3,829 bilhões, com queda de 10,39% em relação ao mesmo período do ano passado. Já as importações caíram 24,31% em relação a março de 1998, atingindo US$ 3,814 bilhões. O resultado do primeiro trimestre é melhor do que o do ano passado, quando a balança comercial apresentou déficit de US$ 1,512 bilhão. Mesmo assim, não cumpre a meta de superávit de US$ 11 bilhões em 1999, que consta na revisão do acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para atingir essa meta, seriam necessários superávits de mais de US$ 1 bilhão por mês até o fim do ano. As vendas externas de café, carne de frango, soja em grão, carne bovina, óleo de soja e aviões impulsionaram as exportações no primeiro trimestre. As vendas de óleo de soja apresentaram crescimento de 202,6% em relação aos três primeiros meses do ano passado. As exportações de carne bovina cresceram 68,8% e as de soja em grão, 27,6%.

FMI

O Brasil recebeu na terça-feira (6 de Abril) a segunda tranche do acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) creditou US$ 4,916 bilhões. Daqui a três dias, o Bank for International Settlements (BIS) - Banco para Compensações Internacionais - e o Banco do Japão complementam a ajuda liberando ao País US$ 4,5 bilhões e US$ 423,5 milhões, respectivamente. O contrato com o FMI e as outras instituições foi firmado no final do ano passado, quando o Brasil sofria os efeitos da crise nos mercados internacionais, deflagrada pelo pedido de moratória da Rússia. O socorro financeiro foi estabelecido em US$ 41,5 bilhões. Para consegui-lo, o Brasil teve de submeter-se a uma série de exigências do Fundo, comprometendo-se com metas econômicas até 2001.

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