Setor Externo
A balança comercial brasileira apresentou, em abril, um superávit de US$ 30 milhões, resultado de exportações no valor de US$ 3,705 bilhões e importações de US$ 3,675 bilhões. O saldo acumulado no primeiro quadrimestre do ano, porém, continua negativo em US$ 779 milhões.
Os recursos da segunda parcela do resultante do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), no volume total de US$ 9,84 bilhões, e os US$ 2 bilhões obtidos com a captação no exterior garantiram ao País, em abril, o primeiro superávit do ano nas contas externas. Foi de US$ 10,45 bilhões o saldo positivo do balanço de pagamentos (que considera resultado da balança comercial, a balança de serviços e, ainda, os ingressos de recursos no País).
No acumulado do ano, entretanto, o balanço de pagamentos está negativo em US$ 45 milhões. Também apresentaram déficit as transações correntes, que consideram apenas a balança comercial e a balança de serviços. Em abril, o saldo dessas transações ficou negativo em US$ 2,49 bilhões e, no acumulado do ano, o volume chegou a US$ 8,09 bilhões ou 4,41% do Produto Interno Bruto (PIB) relativo ao período. Mesmo assim, esse resultado representa uma redução de 20,8% em relação ao déficit registrado no mesmo período do ano passado, que foi de US$ 3,14 bilhões.
Balanço de pagamentos |
||||
US$ milhões |
||||
Discriminação |
1998 |
1999* |
||
Abr |
Jan-Abr |
Abr |
Jan-Abr |
|
Balança comercial |
-226 |
-1738 |
30 |
-791 |
Exportações |
4571 |
16473 |
3705 |
13747 |
Importações |
4797 |
18211 |
3675 |
14538 |
Serviços (líquido) |
-3054 |
-7961 |
-2696 |
-8081 |
Juros |
-1590 |
-3113 |
-1888 |
-4736 |
Outros 1/ |
-1464 |
-4848 |
-807 |
-3345 |
Transferências unilaterais |
130 |
588 |
171 |
775 |
Transações correntes |
-3149 |
-9111 |
-2494 |
-8096 |
Capital |
9142 |
31555 |
12944 |
8051 |
Investimentos 1/ |
3541 |
10766 |
2687 |
9865 |
Amortizações |
-1548 |
-5530 |
-3293 |
-21505 |
Emp.fin. m. e l. prazos 2/ |
7917 |
28078 |
5933 |
12854 |
Cap. curto prazo |
58 |
-1773 |
-1114 |
-4376 |
Outros capitais 3/ |
-827 |
13 |
8732 |
11214 |
1/ Inclui lucros reinvestidos. |
||||
2/ Inclui empréstimos brasileiros |
líquidos |
ao exterior |
||
3/ Inclui erros e omissões e |
operações |
de regularização |
||
* Dados preliminares. |
Considerando-se o valor acumulado em 12 meses, o déficit em transações chegou a 4,78% do PIB em comparação com os 4,75% acumulados nos 12 meses até março. Em valores nominais, entretanto, o déficit acumulado em 12 meses apresentou queda. Até março, o volume era de US$ 34,6 bilhões e, até abril, caiu para US$ US$ 33,9 bilhões. Deve-se notar, entretanto, que o aumento em relação ao Produto Interno Bruto ocorreu por causa da desvalorização cambial. O aumento do dólar ante o real provocou uma redução do produto em dólar. Em relação aos investimentos diretos, a necessidade do País de obter capitais externos para financiar o restante do déficit em transações correntes chegou a 0,39% do PIB em abril - a menor relação desde janeiro de 1995, quando o percentual estava em 0,28% do PIB. Até o mês passado, o total de ingressos dos investimentos diretos acumulado no ano atingiu o montante de US$ 9,24 bilhões. Em 12 meses, o saldo é de US$ 31,1 bilhões. Somente em abril o volume foi de US$ 1,51 bilhão, dos quais US$ 963 milhões foram referentes à privatização da Companhia de Gás de São Paulo (Comgás). No item despesa líquida com viagens internacionais houve queda abrupta de 283 milhões em abril do ano passado para US$ 57 milhões em abril de 99. Nos primeiros quatro meses deste ano, o déficit em viagens internacionais fechou em US$ 300 milhões, ante o total de US$ 1,15 bilhão verificado no mesmo período do ano passado. De acordo com o Boletim do Banco Central, também houve uma pequena retração no volume de remessas de lucros e dividendos para o exterior, que, nos primeiros quatro meses do ano passado, totalizaram US$ 1,55 bilhão e, no acumulado deste ano, ficaram em US$ 1,5 bilhão. Em abril do ano passado foram remetidos ao exterior US$ 585 milhões, enquanto no mês passado essas remessas ficaram em US$ 345 milhões.
As razões do déficit
Com essa evolução das contas externas, está claro que os US$ 11 bilhões previstos no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) não serão atingidos. Para o governo, a meta deve ser recalculada para cerca de US$ 7 bilhões, pois se alega que a conjuntura internacional continua afetando negativamente a retomada das exportações brasileiras. O ganho de competitividade proporcionado pela desvalorização do real ante o dólar não está sendo integralmente repassado ao exportador. Os compradores, sabendo dos ganhos dos produtores brasileiros, têm pressionado por redução nos preços. Além disso, a queda nas cotações das commodities evita o crescimento das receitas das exportações. Finalmente, há o problema do crédito aos exportadores. Aparentemente as linhas de crédito à exportação praticamente retornaram aos mesmos níveis de antes da crise da Rússia. O volume de Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACC) está hoje em níveis superiores a US$ 100 milhões, mas não chegam aos US$ 223 milhões de antes da crise.