Balanço de Pagamentos e Política Cambial

No setor externo, observou-se a partir de julho uma reversão da tendência anterior de pesados déficits na Balança Comercial . Obteve-se um pequeno superávit de US$ 2 milhões , tendo as exportações ficado em US$ 4,004 bilhões e as importações em US$ 4,002 bilhões.Em agosto obteve-se um superávit de US$ 328 milhões, com as exportações tendo obtido US$ 4,558 bilhões e as importações ficando em US$ 4,26 bilhões. Isto foi possível devido a um recorde histórico nas exportações e um comportamento ainda de crescimento das importações de 5,7% em relação a julho.

Outro resultado externo obtido pelo governo foi o das Reservas Internacionais, que atingiram em agosto o recorde histórico de US$ 47,9 bilhões, no conceito de liquidez internacional e US$ 45,8 bilhões, no conceito de caixa(disponíveis imediatamente) . Estes números são, para os objetivos imediatos da política econômica do governo, extremamente positivos. O governo , para reverter o déficit na Balança Comercial, e exorcizar o fantasma da crise cambial, adotou as seguintes medidas:

I. Alterou a política cambial, no 1o. semestre, manejando uma política de "bandas cambiais" altamente oscilante, compostas de mini e micro bandas;

II. Elevou o nível de taxas reais de juros, incentivando ,assim, o afluxo de capitais externos;

III. Adiou o relaxamento da política de restrição de crédito e de compulsórios, adotados somente agora, em agosto;

IV. Implantou restrições às importações, com tarifas mais altas( de 32% para 70%).

V. Desenvolveu amplas articulações políticas para aprovar as emendas constitucionais, especialmente as que se relacionam a uma liberalização da regulamentação dos investimentos estrangeiros.

Estes resultados não são, no entanto, tão positivos como aparentam . Em primeiro lugar as exportações não apresentaram um aumento em volume, mas sim nos preços de algumas mercadorias como o café em grão, o açúcar e a celulose, que são responsáveis por 80% do crescimento das vendas externas. Há uma "perda de qualidade" das exportações brasileiras, com estagnação da participação dos manufaturados e uma concentração nos semimanufaturados como responsáveis pela maior parte das nossas exportações.

As importações, por outro lado, que vinham aparentemente refletindo os efeitos das medidas restritivas impostas pelo governo, ainda que com atraso, voltaram agora a crescer. Em relação a junho, as importações em jullho de automóveis foram 74,5% menores , com o valor de US$ 135 milhões. Os bens de consumo duráveis tiveram uma queda , em geral, de 50%, resultante da redução da demanda interna e da restrição do crédito. O grande problema que resta para o governo é o estoque de cerca de 80000 veículos ainda não internalizados e que dificilmente encontram comprador, já que a venda interna declinou de 76% em relação a marco deste ano.

A saída encontrada pelo governo veio através de um decreto ( 1623 08/09/95) que permite a reexportação dos veículos, condicionada à garantia de que as divisas gastas na importação reingressarão integralmente no país ( (Portaria no. 217 , MF 11/09/95).

Outra consequência perversa da atual política para o setor externo é a compra, pelo BC, de dólares que entram no país para evitar a valorização do real , dentro da atual minibanda (piso) de R$0,948. Em julho a entrada líquida de capital estrangeiro foi de US$8,2 bilhões, tendo caido para US$ 6,1 bilhões em agosto. Para isto, o BC teve que emitir reais, o que tem efeitos inflacionários, já que não tem contrapartida real (em mercadorias). O recurso utilizado para evitar esses efeitos é a emissão de títulos da dívida pública (BBC), o que, por sua vez, atua como fator suplementar de crescimento do estoque da dívida interna, já que o diferencial entre o rendimento externo das reservas - de 5,5% a 6% ao ano - e o interno chega a 33% ao ano reais. O estoque da divida, em consequência, passou de R$ 82,2 bilhões em julho para R$ 89,5 bilhões no final do mês de agosto.

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