Balanço de Pagamentos e Política Cambial
O res ultado do balanço de pagamentos registrou déficit de US$ 7,9 bilhões para o ano de 1997 como resultado do acúmulo de Déficits na Balança Comercial, de Serviços e , no ultimo trimestre, de Capitais. Nos últimos anos, o Déficit de Transações Correntes tem sido compensado com a entrada de um grande volume de capitais, sendo em grande parte de investimento direto. Em 1997, ocorreu um novo recorde de ingressos líquidos de investimento estrangeiro direto (US$ 17,1 bilhões, quase o dobro do ingressado no ano anterior), e aumento de 17% no ingresso de novos empréstimos. Mas o ataque especulativo sofrido pelo Real em outubro levou a uma intensa saída de capitais, processo que recaiu com mais intensidade sobre as aplicações no mercado de capitais, sobretudo aquelas relativas ao anexo IV da Resolução n.º 1.289 do Banco Central , sobre a movimentação de recursos entre instituições internas e externas. Isso vai gerar um agravamento do déficit em transações correntes, que passou de 3,14% do PIB, em 1996, para 4,15% em 1997, e da saída de capitais a curto prazo. A magnitude deste ataque sofrido pela moeda nacional fica ainda mais clara quando se verifica um comportamento da Balança Comercial melhor do que eram as expectativas. A balança comercial brasileira registrou um saldo negativo de US$ 783 milhões em dezembro, resultante de exportações no valor de US$ 4,534 bilhões, no mês, e de importações no valor de US$ 5,317 bilhões. Com esse resultado, o déficit acumulado no ano foi de US$ 8,520 bilhões, 48,5% maior do que o registrado em 1996, mas bem abaixo de todas as previsões do mercado e da estimativa inicial do próprio governo. O mercado chegou a trabalhar com resultado negativo na balança comercial este ano que variava de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões. O governo achava que o déficit ficaria um pouco acima de US$ 9 bilhões. O total das importações de 97, de US$ 61,506 bilhões, foi 15,4% maior do que o resultado de 96 (US$ 53,301 bilhões). Já as exportações, em 97, somaram US$ 52,986 bilhões, ficando 10,9% acima do total de 96 (US$ 47,747 bilhões).
Balanço de pagamentos
US$ milhões --------------------------------------------------------------------- Discriminação 1996* 1997* ---------------- ----------- IV IV Trim Ano Trim Ano --------------------------------------------------------------------- Balança comercial -3948 -5539 -2587 -8372 Exportações 11889 47747 13301 52986 Importações 15837 53286 15888 61358 Serviços (líq.) -7400 -21707 -9068 -27287 Juros -3249 -9840 -4270 -10388 Receita 912 2918 922 4020 Despesa -4161 -12758 -5192 -14408 Outros 1/ -4151 -11867 -4798 -16899 Transferências unilaterais 662 2899 552 2220 Transações correntes -10686 -24347 -11103 -33439 Capital 12253 33012 941 25568 Investimentos (líquido) 5086 16005 2006 20824 Brasileiros -481 77 -603 -1569 Estrangeiros 5537 15481 2573 22242 Portfólio 1914 6039 -2768 5300 Diretos 3623 9442 5341 16942 Reinvestimentos 30 447 36 151 Amortizações -4355 -14423 -13049 -28757 Emprést. e financ. M. L. prazos 10417 27104 13992 47166 Capitais a curto prazo 1723 3995 -5075 -16699 Outros capitais -618 331 3067 3034 Garantias (Acordo) - - 1526 2146 Obrig. Aut. Monet.(incl. FMI) 50 -352 34 -62 Demais (incl. erros&omissões) -668 683 1507 951 Variação de haveres de curto prazo (-=aumento) -1567 -8665 10161 7871 --------------------------------------------------------------------- 1/ Inclui lucros reinvestidos. * Dados preliminares.
Fonte: Boletim do Banco Central- Janeiro 98
Três fatores foram fundamentais para que o resultado ficasse abaixo das previsões. Primeiro, a correção de quase US$ 2 bilhões em importações, devido a registros irregulares no Siscomex. O segundo fator foi a antecipação dos depósitos em reais para a importação de mercadorias com financiamento inferior a 360 dias. Isso fez com que as importações amparadas por financiamentos a prazos superiores a 360 dias, evoluíssem de 3% do total importado em 1996 para 37% ao final de 1997. O terceiro fator foi o desaquecimento da economia no fim do ano, por conta do aumento das taxas de juros.
Embora o resultado final tenha ficado muito aquém das estimativas pessimistas, o déficit é muito expressivo e preocupante. O aspecto mais problemático das contas externas brasileiras não é conjuntural: é estrutural, na medida que o desempenho da indústria brasileira não é suficiente para reduzir o "gap" em relação aos seus competidores. Isso é constatado quando se verifica que as exportações cresceram 10,9% ao longo do ano, e as importações aumentaram 15,4%. O crescimento das exportações ficou acima da média mundial mas isso se deveu a uma desvalorização cambial ligeiramente maior do que em 1996 e maiores facilidades de financiamento. O fundamental é que foram os produtos agrícolas - cujos preços se elevaram no mercado internacional - que obtiveram um ótimo desempenho: até novembro, as exportações de soja em grão tinham aumentado 140,9% e as de café em grão, 65,2% com relação a 1996. Não se pode negar que também houve um crescimento não desprezível, até novembro, das exportações de manufaturados: 9,4%, aumento que teve uma participação expressiva de veículos (132,8%) e de aviões (172,4%). Há alguns fatores que podem estar, no entanto, contribuindo para reverter esta situação. As importações, que haviam crescido 6,9% em 1996, expandiram-se 15,4% no ano passado. E o fato relevante é que o maior crescimento (dados até novembro) foi no item "bens de capital" - com aumento de 32,8% - o que deve contribuir para melhorar a produção nacional e torná-la mais competitiva. Mesmo assim , a política econômica adotada levou a um aumento abusivo das importações de bens de consumo em 20,8% nos onze primeiros meses . As tendências para 1998 apontam para uma sensível redução do déficit da balança comercial, o que parece já ter se manifestado no déficit comercial de dezembro, de US$ 783 milhões, significando uma redução de 56,2% ao do mesmo mês de 1996. Joga no mesmo sentido o fato de que em dezembro, houve um aumento de 14,1% nas exportações e um crescimento de apenas 1,5% nas importações. A redução das importações, gerada pela redução da atividade econômica interna poderá ser, no entanto, contrabalançada pela previsível redução da taxa de crescimento das exportações tendo em vista que a crise internacional certamente afetará o desempenho de muitas economias, inclusive aqueles mercados para os quais exportamos , e irá e aumentar o poder de competição dos produtos asiáticos, devido à brutal desvalorização de suas moedas. A possível redução do déficit da balança comercial e uma menor amortização da dívida externa em 98, provavelmente não serão suficientes para que a economia brasileira possa afastar a ameaça de novos ataques especulativos e a desvalorização do Real. Tudo ficará na dependência dos caprichos do capital internacional, cujo comportamento tem sido generoso para com o Brasil, mas também muito sensível as oscilações de uma economia mundial cada vez mais globalizada.