Economia Mineira: Análise do Comportamento Recente (Agosto/Setembro/1995)

 

Antecedentes

Ao longo dos últimos 25 anos, a economia mineira experimentou profundas mudanças estruturais. A predominância do setor agrícola na estrutura econômica deu lugar a uma participação cada vez mais acentuada do setor industrial na produção econômica do estado.

Este processo de transformação resultou em um forte movimento de expansão industrial, de diversificação e integração econômica de seu parque produtivo que teve no braço estatal seu grande condutor.

Uma articulada política industrial, aliada a um eficiente aparato institucional de fomento criado (INDI, CDI, BDMG E CEFET) constituíram toda a base desse processo.

Em linhas gerais, o estado se caracteriza por possuir vantagens comparativas pronunciadas em relação a outros Estados brasileiros. Dentre essas características se destacam: 1) sua posição geográfica, que permite sua ligação com diversas áreas do país, bem como sua aproximação com os principais mercados consumidores nacionais; 2) outra característica diz respeito à disponibilidade de matéria-prima local para diversos segmentos industriais (atração de indústrias de características weberiana-indústrias que se localizam próximo da fontes de matérias-primas); e 3) um contigente populacional considerável em torno de 16 milhões de habitantes, indicando um potencial de mercado interno.

No plano da estrutura econômica, a ênfase industrial concentra-se nos setores intermediários em primeiro nível e bens de capital e consumo durável em um segundo nível. Os setores tradicionais, de bens de salários, também estão presentes na estrutura industrial do Estado.

Finalizando, a primeira metade da década de 90 sinaliza um movimento de ascensão da economia mineira ao posto de segundo lugar no ranking nacional, com um PIB equivalente a 12,5% do PIB do país., como também passa a constituir-se em um dos Estados com forte participação nas exportações nacionais (14,2%). Nesta direção, as perspectivas da economia mineira para os próximos anos são excelentes, principalmente quando se evidenciam sinais de uma possível retomada consistente do crescimento a nível nacional.

Comportamento Recente: Análise de Conjuntura

A economia mineira, como as demais economias regionais, vem tendo seu desempenho bastante influenciado pela condução da política econômica nacional.

Tendo como referência o quadro nacional anteriormente analisado, a passagem do final do segundo trimestre de 1995 para o terceiro trimestre evidenciou os primeiros sinais de inflexão da economia mineira. A despeito das medidas de política econômica contracionista, a nível nacional, terem sido adotadas no último trimestre de 1994 e, posteriormente, aprofundadas em março de 1995, seus efeitos mais visíveis sobre a economia mineira só se fazem sentir na passagem do segundo para o terceiro trimestre de 1995.

Na análise dos principais indicadores disponíveis encontram-se indícios desse movimento. Observada as taxas de crescimento do consumo de energia elétrica (MWH) (tab. i), para o segundo trimestre/95, o processo de desaceleração explicita-se, principalmente no consumo comercial de energia.

Se adicionarmos o comportamento da arrecadação fiscal (ICMS) do Estado, o movimento de desaceleração da atividade econômica se evidencia ainda mais. Para o mês de Agosto, quando comparado a Julho/95 a previsão de redução na arrecadação gira em torno de 5% (tab. ii).

Tendo como referência ainda os dados disponíveis, os resultados referentes à flutuação mensal do emprego não evidenciam, contrariamente, um quadro queda, quando analisados os dados referentes ao segundo trimestre de 1995. Entretanto, previsões do Ministério do Trabalho sinalizam, para os meses de agosto e setembro de 1995, um processo de desaceleração mais forte, o que resultará em um saldo líquido negativo na evolução do quadro de empregos a nível nacional e regional (tab. iii).

Os indicadores de Vendas do Comércio Varejista têm um comportamento semelhante ao indicador de flutuação do emprego, quando analisados os dados para o segundo trimestre/95. Em suma, não há um claro sinal de desaceleração nesses indicadores. Entretanto, quando se analisa todo o primeiro semestre do ano, uma relativa desaceleração das vendas é notada (tab. iv e v) . Por outro lado, quando adicionamos as previsões de agosto/95 ,os sinais de queda se pronunciam de forma mais evidente, indicando uma redução em torno de 5% nas vendas.

Dentro deste setor, o destaque ficou para o segmento de supermercados que continua com suas vendas aquecidas. A despeito da desaceleração nos últimos meses (tab. v), os indicadores deste setor, segundo a Associação Mineira de Supermercados, sinalizam uma perspectiva de manutenção de um considerável nível de vendas. Segundo esta mesma Associação, uma das razões desse comportamento está relacionado ao fato do setor não ter sido atingido de forma direta pela política de juros e de restrição ao crédito.

O movimento geral da indústria mineira sinaliza, neste final de segundo trimestre, os primeiros sinais claros de que a desacelaração está aprofundando-se . Segundo dados do IBGE, o declínio de -0,9% em julho/95, contra igual mês do ano anterior, indica a primeira taxa negativa de crescimento industrial desde fevereiro de 1993. Os responsáveis por essa performance concentram-se nos setores de metalurgia (-6,9%) , têxtil (-25,9%) e material de transporte principalmente . Positivamente, sobressaem as contribuições dos setores de produtos alimentares (34,2% e química (14,1%).

 

Este movimento confirma uma característica estrutural da economia mineira, qual seja, um economia com forte base industrial voltada para setores intermediários. Enquanto a política macroeconômica contracionista do governo federal inicia sua atuação desacelerante sobre os setores de bens de capital e bens de consumo duráveis das economias regionais mais dinâmicas, o setor intermediário mineiro ainda mantém certo fôlego de crescimento. Mas estabelecido o processo de desaceleração nestas economias regionais , principalmente a paulista, com um determinado tempo de defasagem, cada vez mais curto, os setores industriais mineiros rapidamente incorporam estes sinais de declínio em suas decisões de negócios.

Os sinais de queda nos indicadores de faturamento dos setores industriais vêm referendar tal quadro de desaceleração. Quando analisamos o faturamento da indústria de transformação (tab. vi) deparamos com um recuo das vendas, para o período junho/julho de 1995, em torno de 4,55%. Um dado interessante é quanto ao perfil dessa desaceleração. Os setores de material de transporte (-41,95%) e bens de salário ( vestuário, calçados; - 24,66%) são os mais atingidos. Quanto ao setor de material de transporte, este movimento parece ser atípico. Basicamente, esta desaceleração se deve ao processo de férias coletivas concedidas pela FIAT. Em relação ao setor de bens de salário, o sinal mais evidente é de perda de faturamento nos segmentos voltados para atendimento da classe média e alta.

 

Por outro lado, os setores de mecânica, celulose, papel e papelão têm seus faturamentos aumentados, o que denota que o efeito de desaceleração não é linear sobre a estrutura industrial do Estado. Este quadro abre espaços para a manutenção do nível de atividade da economia com a ampliação dos negócios externos, haja visto que atualmente 25% da produção industrial do Estado já é exportada.

Finalizando, o comportamento do setor público mineiro denota bem o quadro traçado nas análises do painel nacional. Sem dúvida nenhuma, o Estado, apesar de reunir condições estratégicas excelentes de alavancar seus negócios, tem na sua dívida pública, bem como na sua estrutura burocrática um obstáculo à retomada do crescimento em bases mais sustentadas.

Atualmente, com uma dívida pública mobiliária em torno de 5,4 bilhões de reais, da qual 2,9 bilhões foram renegociadas com o governo federal em período recente (serviços desta dívida impõe um custo muito pesado para o Estado - comprometimento de 11% das receitas líquidas ), sinaliza um quadro em que o Estado se depara com uma situação financeira que diminui bastante seu raio de manobra. Para 1995, as cifras de investimentos totalizam pouco mais de R$ 250 milhões de dólares, o que evidencia um comprometimento muito grande das receitas do governo com gastos correntes e serviço da dívida.

O quadro geral da economia mineira, como das demais economias regionais brasileiras, nestes próximos meses ( final do ano de 1995 e primeiro semestre de 1996), aponta para uma desaceleração mais pronunciada, bem como pelo aparecimento de obstáculos cada vez maiores no trato das finanças públicas estatuais e municipais. Fundamentalmente, perspectivas de retomada de crescimento em bases mais sustentadas só se consolidarão a partir do processo de implementação do conjunto de reformas básicas pretendidas pelo governo federal.

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