Economia Mineira: Desacelerando

 

Antecedentes

          Partindo das considerações levantadas no último boletim, com respeito às perspectivas para a economia mineira ao longo do ano de 1998, pode-se afirmar que o comportamento geral da economia mineira no bimestre jan98/fev98 confirma o movimento de desaceleração econômica verificado no último trimestre do ano de 1997. O violento impacto do pacote fiscal de outubro/97 sobre a indústria mineira está determinando uma lenta reação das atividades. Cinco meses após a elevação das taxas de juros a níveis elevadíssimos, há uma nítida piora dos setores de bens duráveis de consumo e intermediários, bem como daqueles que vinham tentando recuperar-se, sem sucesso, ainda do arrocho da política econômica referente ao ano de 1995, como é o caso dos setores de tecidos, vestuário e calçados.

Análise setorial

          Os dados referentes ao comportamento do faturamento industrial não deixam dúvidas .

TABELA 1 (A)

COMPORTAMENTO DA INDÚSTRIA MINEIRA

VARIAÇÕES (%)

SETOR/PERÍODO

Jan/98

Fev/98

fev/97 a jan/98

mar/97 a fev/98 *

Dez/97

Jan/98

fev/96 a jan/97

mar/96 a fev/97

EXTRATIVA MINERAL

FATURAMENTO (1)

(9,09)

(5,55)

17,55

27,74

PESSOAL EMPREGADO (2)

(1,11)

(0,02)

(7,67)

(10,81)

IND. TRANSFORMAÇÃO

FATURAMENTO (1)

(5,10)

(9,42)

7,89

0,20

PESSOAL EMPREGADO (2)

(1,04)

(0,69)

(2,56)

(5,71)

AGREGADO INDÚSTRIA

FATURAMENTO (1)

(5,33)

(9,20)

8,23

1,44

PESSOAL EMPREGADO (2)

(1,05)

(0,67)

(2,79)

(5,94)

FONTE: INFORME ECONÔMICO EMPRESARIAL, OUT/97, ANO 1, Nš 6.

PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MG.

(1) VARIAÇÃO REAL-DEFLATOR: IPA-OG/SETORIAL/FGV

(2) VARIAÇÃO NOMINAL

(3) DADOS PRELIMINARES

A queda da indústria de transformação foi de -9,42% em fev/98 em relação a jan/98. Os subsetores da indústria de transformação que mais desaceleraram foram: minerais não metálicos (-10,66%), metalurgia (-9,99%), mecânica (-8,60%), material elétrico e de comunicações (-13,89%), química (-9,75%), têxtil (-11,28%), produtos alimentares (-13,96) e bebidas (-10,19%). Com estes resultados o agregado da indústria também apontou para uma desaceleração de -9,20%. No acumulado dos últimos doze meses, o destaque é para a manutenção da indústria extrativa mineral com níveis de faturamento ao redor de 27,74% de crescimento. Em relação a indústria de transformação o destaque positivo foi também a manutenção das taxas de crescimento do setor de mecânica em torno de 37,86% nos últimos doze meses. Entretanto, os resultados negativos a partir de outubro/97 já se fazem sentir. Os setores de material de transporte (-23,57%) e fumo (-20,04%) são as evidências mais explícitas do processo de desaceleração no faturamento industrial acumulado.

          Em relação ao comportamento do emprego não existe nenhum fato novo, qual seja, a tendência generalizada é de redução dos seus níveis. O quadro atual é uma combinação perversa de ajuste estrutural com pressões advindas do ajustamento conjuntural por que passa a economia brasileira e, por extensão, a economia mineira. Sem dúvida nenhuma, a retomada das taxas de crescimento do emprego somente irão ocorrer em um quadro de crescimento sustentado de médio e longo prazo.

TABELA 1 (B)

COMPORTAMENTO DA INDÚSTRIA MINEIRA

VARIAÇÕES (%)

SETORES

UTILIZAÇÃO CAPACIDADE INSTALADA

Jan/98

Fev/98

mar/97 a fev/98

EXTRATIVA MINERAL

94,82

96,35

95,00

IND. TRANSFORMAÇÃO

80,49

78,22

81,85

INDÚSTRIA (AGREGADO)

81,30

79,24

82,59

FONTE: INFORME ECONÔMICO EMPRESARIAL, OUT/97, ANO 1, Nš 6.

PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MG.

          Quanto ao comportamento do setor varejista o movimento de março/98 em relação a fevereiro/98 não espelha fielmente o desempenho dos dois primeiros meses do ano. O resultado do mês de março/98 é fruto, principalmente da promoção Liquidabelô (crescimento + 16,20% no agregado-ver tab.2). Todos os subsetores do comércio varejista recuperaram suas vendas neste mês. Entretanto, no primeiro trimestre, o resultado geral e uma queda de (-8,29%) quando comparado a igual período do ano anterior. Este resultado está mais próximo daquele sinalizado pelos dados de faturamento anual.

TABELA 2

DESEMPENHO DO COMÉRCIO VAREJISTA

FATURAMENTO (%)

ATIVIDADES

mar98/fev98

mar98/mar97

COMÉRCIO VAREJISTA

16,20

(-7,32)

DURÁVEIS

16,45

(-0,67)

SEMI DURÁVEIS

33,86

(-15,42)

NÃO DURÁVEIS

5,53

(-6,78)

COMÉRCIO AUTOMOTIVO

24,56

(-20,13)

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

15,56

(-8,46)

FONTE: PESQUISA CONJUNTURAL DO COMÉRCIO VAREJISTA DA RMBH

DEFLATORES: ÍNDICES ESPECÍFICOS DO IPEAD/UFMG

 

          Segundo a Federação do Comércio de Minas Gerais (FCEMG), as altas taxas de juros, desemprego, queda da massa salarial, aumento da inadimplência, concorrência acirrada e mudanças de hábitos dos consumidores são algumas das variáveis que influenciaram os resultados nestes últimos meses, bem como certamente influenciarão o ritmo dos negócios e a saúde financeira das empresas ano longo do ano de 1998.

          Na observação da tabela , consumo de energia, pode-se constatar a desaceleração do consumo de energia industrial e comercial para os dados disponibilizados. O movimento do consumo de energia industrial, apesar de levemente positivo, dá sinais de queda significativa. Quanto ao setor comercial, sua manutenção em níveis aceitáveis se deve ao movimento de final de ano e às promoções ao longo do mês de janeiro de 1998.

TABELA 3

CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA

MERCADO CEMIG - AGOSTO/97

DISCRIMINAÇÃO

JAN98/DEZ97

VARIAÇÃO ÚLTIMOS

DISTRIBUIÇÃO DIRETA

12 MESES

RESIDENCIAL

13,14

8,10

INDUSTRIAL

0,63

3,70

COMERCIAL

7,51

10,90

FONTE: CEMIG

 

          A despeito de todo este quadro adverso do primeiro bimestre do ano de 1998, o setor exportador da economia mineira revelou-se bastante ativo. Já ao longo de ano de 1997 este se destacou com uma excepcional taxa de crescimento (ver último boletim). Era de se esperar algum nível de retração nas vendas externas, principalmente em função dos distúrbios nos mercados internacionais ocasionados pela crise asiática. Entretanto, para surpresa geral o comportamento das exportações mineiras foi brilhante neste primeiro bimestre do ano. Cresceu a uma taxa de 43,20% em relação ao mesmo período do ano passado. A vendas totalizaram US$ 1.431 bilhões de dólares, o que permitiu um aumento da participação das exportações mineiras na pauta nacional de 14,6% para 18,8%. Deve ser ressaltado que não está incorporado nestes dados a redução ocorrida recentemente nos preços do café. Portanto, deve-se esperar alguma diminuição dos níveis de crescimento das exportações para os próximos meses.

Volta ao Índice