BELO HORIZONTE:
Primeiro Trimestre de 98

          I - O Nível de Preços

         

          O nível de preços no município de Belo Horizonte durante o mês de abril de 1998, apresentou uma elevação, conforme pode-se verificar na Tabela e Gráfico 1 a seguir.

          Segundo o IPEAD/UFMG a média mensal do Índice de Preços ao Consumidor Amplo -IPCA, que mede os gastos das famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos, no mesmo período em pauta foi de 0,28%, contra (-) 0,04% no mês de março. Naquele mês, ocorrera uma deflação, que acabou gerando uma grande preocupação por parte dos analistas em função do fantasma da recessão, que ronda algumas áreas específicas da atividade econômica do país e da capital mineira, desde o início deste ano. Quanto ao Índice de Preços ao Consumidor Restrito - IPCR, que mede os gastos das famílias de 1 a 8 salários mínimos, mostrou uma variação de 0,41%, contra 0,17% no mês de março. O IPCA acumulado em 12 meses ficou em 3,81%.

         

TABELA - 1

EVOLUÇÃO DO IPCA/ IPCR EM BELO

HORIZONTE - MAR./97 A FEV/98

         

MESES

IPCR

IPCA

Mai/97

0,31

0,55

Jun/97

-0,01

0,17

Jul/97

-0,15

-0,09

Ago/97

0,01

0,03

Set/97

0,26

0,19

Out/97

0,81

0,62

Nov/97

0,44

0,32

Dez/97

1,03

0,81

Jan/98

1,10

0,77

Fev/98

1,11

0,14

Mar/98

0,17

-0,04

Abr/98

0,41

0,28

Fonte: IPEAD/UFMG

         

         

          Em abril o tomate foi um dos produtos que mais contribuiu para a variação do IPCA em Belo Horizonte, em torno de 24,02%, acompanhado pela mudança no preço do feijão carioquinha 19,99% e roupa de cama 11,35%.

GRÁFICO - 1

         

 

          Belo Horizonte enfrenta assim como outras capitais do país, especialmente São Paulo, a pressão dos alimentos sobre a variação dos índices de preços. Como apontado em outras pesquisas, no período do início do Plano Real os produtos alimentares haviam estabilizado e, inclusive, foram eles os principais responsáveis pela queda dos preços, enquanto que os serviços e gastos com habitação pressionavam os índices.

          Neste primeiro trimestre do ano é possível observar uma reversão, apesar de uma pequena elevação dos preços dos aluguéis residenciais e comerciais. A título de exemplo, alguns preços literalmente caíram ou estabilizaram-se, como de serviços, aluguéis (desde o segundo semestre de 1997), o comércio varejista e automotivo (que realizaram várias promoções) e quase todas as pesquisas apontaram queda dos preços no país e nas regiões metropolitanas. Enquanto isso, os alimentos exerceram forte pressão sobre os preços devido a menor oferta de produtos, ocasionada especialmente pelos efeitos do El Niño.

         

          II - Cesta Básica em Elevação

         

          O custo da Cesta Básica, que representa os gastos de um trabalhador adulto com a alimentação, definida pelo Decreto Lei 399/38, calculado pelo IPEAD/UFMG, apresentou uma variação de 3,30% no mês de março de 1998, contra (-) 0,67% verificado no mês anterior. O valor da cesta básicas em março ficou em R$ 80,66 (oitenta reais e sessenta e seis centavos), sendo que no mês de fevereiro era de R$ 78,08 (setenta e oito reais e oito centavos), segundo o referido Instituto. O custo da cesta básica, que já está estava em elevação, poderá continuar subindo, caso não sejam tomadas medidas no sentido de reduzir os impactos dos alimentos sobre a mesma. Mediadas estas que como já anunciadas, incluem as importações.

          O aumento do preço do feijão carioquinha é que mais têm chamado a atenção, produto este, que exerce grande pressão e peso na composição média desse custo, como pode-se observar na Tabela e Gráfico 2 a seguir. Mas as maiores altas verificadas em março, foram a dos preços da banana caturra, 22,31% e do tomate santa cruz 9,65%, contra (-) 1,70% e (-) 0,89%, respectivamente no mês de fevereiro.

         

TABELA - 2

VARIAÇÃO DO VALOR DA CESTA BÁSICA EM

BELO ORIZONTE - FEVEREIRO DE 1998

PRODUTOS

Variação %

Valor em R$

Qtidade

Acúcar Cristal

0,89

1,64

3.0 Kg

Carne de segunda

0,60

16,45

6.0 Kg

Óleo de Soja

-4,26

1,28

900 ml

Arroz

-2,54

2,50

3.0 Kg

Batata inglesa

-7,53

6,30

6.0 Kg

Manteiga

2,12

4,77

0.75 Kg

Banana caturra

22,31

8,96

7.5 Kg

Farinha de trigo

-1,72

0,93

1.5 Kg

Tomate Santa Cruz

9,65

9,69

9.0 Kg

Feijão carioquinha

4,76

6,51

4.5 Kg

Café em pó

-1,23

2,34

0.6 Kg

Pão francês

1,45

13,35

6.0 Kg

Leite tipo C

1,26

5,95

7.5 L

CUSTO DA CESTA

-

80,66

-

MENSAL

3,3

-

-

CUSTO/SAL. MÍNIMO

67,21

-

-

FONTE: IPEAD/CEDEPLAR/UFMG

         

          Mas como verificado na tabela acima, as maiores contribuições para a elevação do IPCA em março no Município, foram do tomate 24,02% e do feijão carioquinha 14,99%. Os produtos que geraram um menor impacto sobre o índice, foram da batata inglesa (-) 7,53%, do óleo de soja (-) 4,26% e do arroz (-) 2,54%, contra (-) 3,44%, 1,72% e (-) 0,89, respectivamente.

          O comprometimento dos gastos com uma cesta básica, representou 67,21% do salário mínimo no mês de março, que tinha o valor de R$ 120,00 (cento e vinte reais), contra 65,07% no mês anterior. Quando comparamos o novo salário mínimo divulgado em 1o. de maio, ou seja, de R$ 130,00 (cento e trinta reais), com o valor da cesta básica, o comprometimento cai para aproximadamente 62,05% do valor salário, sendo este percentual ainda muito elevado, comparado aos primeiros meses do Plano Real.

GRÁFICO - 2

         

         

          Os efeitos climáticos do fenômeno do "El Niño", que provocaram uma forte seca na Região Nordeste do país e excesso de chuva nos Estados do Sudeste e Sul, são apontados como as causas mais relevantes da recente alta de preços de alguns produtos que compõem a cesta básica do trabalhador. Além da quebra das safras internas, percebe-se que não existem muitas alternativas para o problema já que as importações apenas poderão ,em parte, atenuar o choque de oferta, seja do feijão, seja dos outros produtos alimentares. Isto porque os outros países produtores como Argentina e Bolívia também sofrem com o fenômeno climático citado e, em alguns casos, até com maior intensidade.

          Os especialistas têm apontado que a situação poderá voltar a se normalizar a partir do segundo semestre do corrente ano com a entrada no mercado de uma nova safra do feijão, que foi plantado nos primeiros meses deste ano, como é o caso do feijão irrigado no Estado de São Paulo. Estima-se também a entrada de aproximadamente 150 mil toneladas do produto no mercado, provenientes da Bolívia e de Rondônia. Mas não se pode perder de vista os problemas relacionados com o fornecimento de arroz no país em função da intensidade das chuvas na região Sul. O preço deste produto, que disparou na primeira quadrissemana de maio, poderá ser o principal responsável pela escalada dos índices de preços no mês de abril e maio.

         

          III - O Comércio Varejista e o Crescimento da Inadimplência

         

          Como já apontamos no ítem da Economia de Minas Gerais, nem mesmo as promoções do comércio varejista de início de ano, o Carnabelô, a queda da Taxa Básica do Banco Central - TBC, a extensão de prazos de pagamentos por parte dos lojistas e a consolidação da abertura de lojas e supermercados aos domingos, foram suficientes para conter a escalada da recessão e de títulos protestados das pessoas físicas e jurídicas na capital mineira.

Gráfico - 3

         

         

          O Gráfico 3 demonstra a complexidade do comércio varejista na Região Metropolitana de Belo Horizonte, durante o período de janeiro de 1997 à março do corrente ano. Segundo os dados da Federação do Comércio de Minas Gerais, realizados através de pesquisa do seu Departamento de Economia em março, registrou-se um resultado negativo de 7,32%, em que pese a recuperação das vendas verificada no mês de fevereiro em torno de 16,2%, fruto das liquidações citadas anteriormente. No entanto, o trimestre já registrou uma queda acumulada de (-) 8,29%, comparado com o mesmo período de 1997.

          A pesquisa demonstra ainda, que nenhum setor, conseguiu superar o volume de negócios em março de 1997, sendo que os piores desempenhos, ficaram com as concessionárias de veículos (-) 25,29%, tecidos (-) 23,09%, lojas de departamentos (-) 19,26% e calçados que registrou uma queda de 16,23%.

          Dentre os principais fatores apontados pela profunda queda do comércio em Belo Horizonte, destacam-se as elevadas taxas de juros praticadas, o crescente desemprego, perda do poder de compra, especialmente da classe média, estrutura de custo no município, que segundo o IBGE estaria acima da média nacional, dentre outros.

         

          IV - Preços dos Aluguéis Residenciais e Comerciais

         

          A variação do índice de preços dos aluguéis residenciais em Belo Horizonte, foi positiva nos meses de fevereiro e março do corrente ano 0,76% e 1,08%, respectivamente, sendo os apartamentos os principais repensáveis pela variação, como apontado pela Pesquisa do Mercado Imobiliário do IPEAD/UFMG.

          Os aumentos verificados, podem ser explicados em função da política macroeconômica do governo federal de juros escorchantes, que atingiu de cheio a classe média do país e das regiões metropolitanas com maior intensidade. Outro sério problema é o desemprego aberto no país, que atinge de maneira mais forte as grandes capitais, tais como a do Estado de Minas Gerais.

          Os preços dos aluguéis residenciais ajudam a compreender melhor porque os aumentos dos preços dos serviços (escola, médico-odontológico, pessoais, impostos, etc), atingiram de cheio a classe média nesse primeiro bimestre do ano em Belo Horizonte.

         

TABELA - 3

VALORES MÉDIOS EM REAIS DOS ALUGUÉIS RESIDENCIAIS EM BELO HORIZONTE -

FEVEREIRO E MARÇO DE 1998

IMÓVEL

NÚMERO

BAIRRO POR CLASE DE RENDA

DE QUARTOS

Popular

Médio

Alto

Luxo

e Banhos

Fev/98

Mar/98

Fev/98

Mar/98

Fev/98

Mar/98

Fev/98

Mar/98

Barracões

1

206,44

203,83

240,51

225,59

220,00

220,00

(-)

(-)

2 ou +

239,30

248,79

295,50

285,44

310,00

(-)

(-)

(-)

Casas

1

246,61

240,42

242,11

247,14

257,00

340,00

(-)

(-)

2

322,84

313,73

349,13

345,82

451,09

444,38

(-)

(-)

3 e 1

452,63

465,29

523,34

528,21

695,45

889,29

1206,25

1270,00

3 e 2

596,67

505,00

676,00

671,67

(-)

(-)

(-)

1237,50

4 e 2

522,57

476,25

780,00

739,17

1166,67

1071,43

2100,00

2335,00

Acima 4 e 2

1152,13

(-)

1062,50

925,00

2256,25

2075,00

3430,00

3185,71

Apartamentos

1

246,88

241,67

274,57

276,03

318,00

312,86

490,45

507,50

2

306,54

309,11

360,75

357,87

422,27

415,57

542,77

541,32

3 e 1

374,62

362,88

447,37

455,74

533,54

533,78

686,18

701,65

3 e 2

409,89

430,55

453,12

433,95

565,88

554,29

727,56

744,00

4 e 2

(-)

(-)

680,63

853,44

898,81

1023,64

1262,24

1381,42

Acima 4 e 2

(-)

(-)

(-)

647,50

(-)

1621,88

1775,00

FONTE: IPEAD/CEDEPLAR/UFMG

          (-) Dado não disponível no nível

         

           

          A locação de imóveis em Belo Horizonte desde a pesquisa do IPEAD de setembro do ano de 1997, até por volta de janeiro do corrente ano, estava passando por uma situação atípica, especialmente no mês de janeiro, ou seja, quedas significativas em quase todos os segmentos (popular, médio, alto e luxo) e, quando não, preços estáveis. Esse processo como apontado, foi fruto de um ajuste previsto desde o início do Plano Real, assim como também, em função do aumento da oferta de apartamentos e de casas no último trimestre de 1997.

          O Gráfico 4 a seguir demonstra que houve uma inversão na queda dos preços dos aluguéis residenciais em Belo Horizonte, no período entre fevereiro e março do corrente ano. A principal razão para a referida elevação foi o aumento em torno de 1,85% dos preços de aluguéis dos apartamentos situados nos bairros nobres da Capital 4,03% em média.

         

Gráfico - 4

         

          Nos bairros mais valorizados a variação dos apartamentos do tipo médio, tiveram um aumento de aproximadamente 1,25% e, pelo Gráfico acima, percebemos algumas distorções, como é o caso dos imóveis de 4 quartos e dois banheiros, que apresentaram uma variação em torno de 25%.

          Nos aluguéis comerciais houve também um pequeno aumento dos preços, em torno de 0,56%, puxados especialmente pelos preços das lojas 2,06% e dos galpões 2,88%, em que pese a queda apresentada nos aluguéis de andares corridos (-) 3,66% e das salas (-) 1,10%.

          Mas finalmente cabe reforçar o que já fora destacado pela pesquisa do IPEAD/UFMG, ou seja, o resultado do primeiro trimestre de 1998 confirma a tendência de uma maior estabilidade e mesmo queda, como também já destacado por diversas vezes neste boletim. Estes pequenos reajustes verificados no trimestre, podem ser explicados em função de uma combinação da queda na oferta de imóveis para locação comercial (-) 4,50%, assim como pela pequena elevação dos aluguéis residenciais 0,66%.

         

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