Balanço da Economia Brasileira em 1995

A economia apresentou neste período um comportamento basicamente de estabilização, no que diz ao seu parâmetro básico: a evolução da inflação, que apresentou no acumulado de doze meses a taxa 23,21%, pelo IPC-FIPE, ou 15,25% pelo IGP-M(prévias de dezembro). Essa evolução da inflação não está, no entanto garantida para o próximo ano, na medida em que ha' pressões inflacionárias pelo lado da oferta- principalmente de produtos agrícolas. Por outro lado, a própria política econômica gera essas pressões, com a a expansão da base monetária necessária para absorver os dólares que entram na economia. A economia se mantém estabilizada por força da influência das "âncoras " do Plano real, cujo balanço também não e' muito positivo, como veremos a a seguir.

* A âncora cambial e' ate' agora o fator responsável pela estabilidade de preços , na medida em que impõe uma limitação ao mercado livre de dólares. Ate' o momento, o país ostenta um volume de Reservas Internacionais(US$51,257 milhões) capaz de servir de garantia para a estabilidade da moeda. Além disso a política cambial " de bandas" mantém a moeda sobrevalorizada, mas procura reduzir gradativamente esse problema com a alteração sistemática das bandas.

* A âncora monetária, que impõe um ajuste monetarista à economia, mantendo uma série de restrições à liquidez da moeda e ao crédito, tendo como contraponto uma elevada taxa de juros, necessária , para o governo, para evitar maiores especulações com ativos reais.

O resultado dessa política, exacerbada pelos compulsórios sobre operações de crédito, restrições de prazo para crédito direto ao consumidor ,etc gerou uma queda inédita dos níveis de produção, emprego e vendas e- como geralmente ocorre, contribuiu para eliminar a temível "bolha de consumo" do horizonte. Mas fez a economia mergulhar num processo de crise financeira ao lado da crise do setor produtivo da economia.

* A queda significativa da produção, a redução do nível do emprego e da renda , e a rigidez com a qual se colocou a equipe econômica com relação a flexibilização das âncoras, gerou uma situação de certa fragilidade da manutenção da estabilidade. Ainda mais quando se sabe que todos esses fatores pode-se somar o da queda de lucratividade em quase todos os setores da economia.

Mais do que isso, passou a tornar crucial para a manutenção da estabilidade uma intervenção direta do governo para o saneamento e restruturação de vários setores. O que vai gerar uma pressão extra sobre o caixa do governo, no sentido de gerar recursos que viabilizem o "socorro" às empresas, sejam elas Bancos, setor agrícola,etc.

* Nesse quadro se insere a crise política, com a revelação de escândalos que são o reflexo das lutas internas das forças governistas. Do lado fiscal, as mudanças na legislação tributaria -a Reforma e o IR são superficiais e não possibilitam ao Governo se libertar da rigidez da política monetária( ver adiante)

* As possibilidades de uma aceleração da estratégia de "reformas estruturais" é , para o governo, ao mesmo tempo a única saída e uma difícil empreitada. Para levar a cabo as privatizações e a Reforma da Previdência, além da desindexação da economia, o governo vai precisar de uma ampla margem de consenso, que dificilmente será obtida e certamente exigirá concessões "fisológicas".

Os acontecimentos na França podem fornecer uma referência para as dificuldades que o governo pode vir a enfrentar se preferir a aceleração. E a manutenção das atuais contradições se torna cada vez mais um fator gerador de crises, na medida em que não se define uma hegemonia clara de um projeto.

As perspectivas de uma volta ao crescimento, de uma superação dos atuais problemas com a implantação das "reformas estruturais", estão pelo menos adiadas. Apesar da anunciada disposição de grandes investimentos por parte das empresas multinacionais, sua concretização não trará efeitos imediatos.

O próximo ano terá, na melhor das hipóteses, uma reprodução das taxas de crescimento de 95. A política econômica do Real não garante, definitivamente, uma longa e tranqüila transição para uma economia adaptada aos rigores da globalização. A encruzilhada a que ele conduz acabou por vincular a estabilização da economia aos malefícios dos juros altos, do desemprego juntamente com déficit na Balança Comercial. A saída para esta encruzilhada depende da atuação de outros atores políticos e sociais ou de uma mudança global na política econômica, que não parece ser um objetivo para o governo a curto prazo.


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