Análise de conjuntura: Evolução recente da economia brasileira

No último período a economia brasileira tem revelado uma grande instabilidade, ainda que no quadro de um plano de estabilização - o Plano Real. Na verdade, apenas uma variável - a do índice de preços ao consumidor - tem sido estratégica no sentido de cumprir o objetivo básico do plano - a redução da inflação. Os indicadores de preços apontam para um patamar em torno de 20% a 25% ao ano.. Considerando a relação estável entre real e dólar - sobrevalorizada - este é um índice elevado, pois a inflação em dólar está entre 1 e 3 % ao ano. A questão a se analisar é se o custo econômico - a redução do crescimento em andamento, o desequilíbrio externo - e o custo social - o desemprego e as perdas salariais - são razoáveis em função da estabilização. Outra questão é saber qual o prazo pelo qual vai se obter esta estabilização, e se os custos envolvidos serão ou não efêmeros, ou se manterão desajustes estruturais capazes de reverter o processo para um novo quadro de desestabilização.

Principais Períodos

Podemos dividir a análise da evolução recente da economia brasileira em três períodos básicos . A fase 1 do plano real , que compreende o período entre julho de 1994 e janeiro de 1995 - é caracterizada por forte aceleração do crescimento econômico, juntamente com a queda das taxas de inflação e uma política de abertura às importações acentuada, juntamente com um pesado influxo de recursos externos. A fase 2, que vai de janeiro a maio deste ano, se carateriza por um forte ajuste do plano na área externa, com mudanças significativas na política cambial e para com as importações. Na fase atual, que poderíamos chamar de fase 3, destacam-se uma nova alteração na área cambial, com um novo aumento das reservas internacionais do pais , sinais cada vez mais evidentes de redução do nível de atividade da economia, com uma característica específica em relação a outros períodos, qual seja a crise de liquidez, que tem levado a uma inadimplência generalizada.

Isto acarreta um aumento do número de falências e concordatas, chegando agora a crise até o sistema financeiro, com a rumorosa intervenção do BC nos Banco Econômico, Mercantil e Comercial de São Paulo.

A continuidade ou não deste processo - que repercute intensamente na produção agrícola, na produção industrial, e no agravamento da situação das contas públicas em todos os níveis, depende de mudanças na política de contenção do crédito e alta do nível da taxa de juros adotadas até aqui. Dado o fato de que a meta governamental é de um crescimento em torno de 5% para este ano, e a economia cresceu 8% no primeiro semestre em relação a igual período do ano passado, é difícil se esperar alguma mudança significativa neste campo.

Contradições da Fase Atual

A capacidade de retomada do crescimento da economia demonstrada nas fases anteriores do Plano Real, impulsionada por uma expansão da demanda e resultado de um inegável, porém restrito, aumento da produtividade industrial , foi um dos grandes elementos de sua imediata e ampla popularidade na fase 1. Foi também um dos principais indicadores para que as empresas multinacionais aqui instaladas e mesmo as que ainda não possuem investimentos no Brasil, anunciarem planos de expansão e /ou novos investimentos nos próximos cinco anos. Diante da incapacidade do Estado, em todos os níveis, de sequer manter o custeio da máquina administrativa, e, portanto, ser um agente de investimentos na economia e da tradicional fragilidade financeira da empresa privada nacional, reside no investimento externo no setor produtivo a grande esperança de retomada do crescimento econômico para os gestores do real.

Na fase atual, no entanto, como reflexo da política econômica do governo em refrear o crescimento da economia os índices animadores de crescimentos das vendas e do faturamento, cederam lugar apara os sombrios sinais de inadimplência generalizada e queda do consumo em escala vertiginosa. Seguem-se os efeitos esperados : concordatas, falências, elevação do nível de desemprego. O grande desafio dessa fase atual, portanto, do Plano Real , é conseguir manejar a economia entre contradições ampliadas e soluções que, muitas vezes, geram inevitáveis efeitos colaterais. Nada parece indicar que se sairá do atual " ciclo vicioso perverso " para um "ciclo virtuoso regenerador" capaz de afastar para sempre os espectros da inflação e da recessão.

As chamadas "reformas estruturais neo -liberais " , ou seja o Programa Nacional de Desestatização, a Reforma Tributária, a Reforma da Previdência, e a desregulamentação da economia tem sido o foco das grandes contradições políticas da aliança governamental no poder.

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