Apresentação

 

Neste número de Ecosys analisamos a situação da economia em Setembro, quando o impacto da crise internacional atinge em cheio a economia brasileira que se torna "a bola da vez". No número anterior de Ecosys alertamos para as "armadilhas " existentes na política econômica atual, que não adotou medidas capazes de evitar que o impacto negativo de uma crise externa (também previsível) se concretizasse. Nos termos de sua própria estratégia, o governo entregou-se a uma política de curto prazo e de grande pragmatismo cujo fundo manteve sempre um aspecto inegávelmente político. Sem que se produzisse um debate de alternativas que protegesse a economia brasileira de ataques externos, acabamos prisoneiros de uma única alternativa: a de um empréstimo concedido em parte e avalizado pelo FMI. Esse é o resultado de uma estratégia que em quatro anos atrelou a estabilidade de preços a aberturas comercial e financeira não adequadamente estruturadas e que geraram uma dependência perigosa de capital especulativo internacional, sobrevalorizando o real e triplicando a dívida externa privada. Em menos de quatro anos a dívida interna aumentou em cerca de 400% , com efeitos negativos sobre o equilíbrio macroeconômico. Em dezembro de 1994 o setor público tinha, com relação ao PIB, um superávit operacional de 1,4%; em julho de 1998 encontrava-se com um déficit operacional de 7,3%. O déficit de transações correntes que era insignificante em 1994 alcançou mais de US$ 33 bilhões em fins de 1997. O déficit da conta de serviços (juros, lucros e turismo com uso de cartão de crédito em dólares) é crescente e só poderá ser corrigido com controles diretos. Mas a situação é particularmente imanejável sobretudo na conta de capitais. As amortizações e as necessidades de rolagem de uma dívida externa de mais de US$ 140 bilhões, cujos vencimentos a curto prazo ultrapassam US$ 50 bilhões, são superiores à capacidade de atração de capitais de qualquer natureza. Tínhamos no segundo semestre deste ano, antes de começar a perda de reservas, necessidades de financiamento externo de US$ 35 bilhões para fechar as contas até o fim do ano e de cerca de US$ 80 bilhões em 1999. A situação de fuga de capitais e o estreitamento da liquidez internacional para "países emergentes" colocou o país em situação de risco de insolvência.

Coloca-se assim, urgente e necessário, a elaboração de uma estratégia alternativa a esta situação, pois os efeitos positivos do acordo com o FMI na comunidade financeira internacional poderão ser inferiores às necessidades já previstas para o próximo ano. Esperamos que as iniciativas nesse sentido, atualmente esparsas e tímidas, possam se concretizar ainda a tempo de recuperamos a economia brasileira para os caminhos do desenvolvimento e da distribuição de renda.

 

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